1962 - 2020
Chegava sempre de sacolinha nas mãos, com uma “coisinha para as crianças” ou um pãozinho quente para o café.
Jorge contava histórias e piadas como ninguém. Suas piadas eram sem graça, mas a graça estava justamente nele, que gostava tanto de alegrar as pessoas que, a cada risada ganha, aumentava um detalhe na história. E, assim, ele nunca contava um "causo" do mesmo jeito.
Isso, quando não se fantasiava para imitar as pessoas, usando até caretas para compor a encenação. Ou, quando se fazia de bobo e fingia esquecer os nomes dos objetos, e até das pessoas, só para fazer piada.
Ele era o mais engraçado e o mais animado nas festas com os amigos. Onde chegava, logo puxava assunto, porque sabia conversar sobre vários temas. E como conversava, e como tinha amigos!
Tinha também um coração enorme por trás da teimosia e do jeito sistemático. A qualquer hora, tinha uma palavra de apoio na ponta da língua, um ombro amigo e um incentivo para oferecer. Jorge não economizava elogios para quem amava.
Foi o pai mais amoroso e dedicado, participando de todos os momentos possíveis da vida do filho Gugu. Um companheiro cuidadoso e amigo mais generoso, que Jacqueline poderia imaginar. Sorte grande teve Nick, em tê-lo como avô!
Sorte tiveram todos que puderam conviver um pouco com ele, que nunca teve a vida fácil. Desde pequeno lutou contra uma paralisia, que o deixou com uma deficiência no pé esquerdo, fato que não o impediu de fazer tudo o que queria.
Estudou Direito com muito esforço e se formou no curso dos seus sonhos. Talvez por isso, Jorge tivesse tantas discussões acaloradas sobre política e injustiça social. O advogado era muito honesto e comprometido com seu trabalho. De segunda a sexta, acordava às 5h para trabalhar e só chegava em casa tarde da noite.
E, até cansado, cantarolava feliz no chuveiro. Música não faltava na sua vida, fosse cantando, ouvindo ou dançando. Adorava teatro e poesia, mas, mais ainda música, que lhe marcava sem igual, assim como ele marcou todos com seu carinho, generosidade, humildade e alegria.
“Um dia a gente se encontra de novo, meu bem!”, escreve a companheira Jacqueline, com a certeza de que eles se reencontrarão, porque se amam e não estão separados, estão apenas morando em locais diferentes. Afinal, como dizia o próprio Jorge: "Amor não se separa, porque é mais forte que a distância, mais forte que o tempo. O amor é uma parte nossa que foi morar em outro coração."
Jorge nasceu em São Gonçalo (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela companheira de Jorge, Jacqueline de Oliveira Tavares. Este tributo foi apurado por Michelly Lelis, editado por Ana Squilanti, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de junho de 2020.