Sobre o Inumeráveis

Jorge Napoleão Belém da Fonseca

1949 - 2020

"Calma, vai dar certo", ele sempre dizia essa frase.

As linhas abaixo foram escritas por Suellen para seu pai, Jorge:

Não dava para ficar triste diante dele. Sempre contava uma história que nos levava às gargalhadas.

Como ator há mais de quarenta anos, foi Papai Noel, Rei Momo, padre, carcereiro e chefe de torcida de clube de futebol.

Como homem, foi marido de uma guerreira, por mais de cinco décadas.

Como pai, foi o único que conseguia fazer com que a minha dor de barriga passasse, deslizando sua carinhosa mão no meu ventre, quando eu tinha apenas 3 anos.

Dele, meu irmão e eu herdamos a paixão pelo Fluminense. Dele herdei o amor pelas artes cênicas e me tornei atriz. Do meu pai herdei, acima de tudo, o caráter.

Como avô foi o único que conseguiu que o netinho deixasse a mãe assistir à novela, porque o pequeno Joaquim permitia que na TV passassem apenas desenhos.

Ah, herdei também o gosto pela cebola e a ojeriza à manteiga (eca!). "Pai, faz um petisco diferente! Você só come linguiça!"

Napoleão, como era chamado pelos diretores e produtores de teatro e televisão, foi um guerreiro. Sua luta nunca foi armada. Seu bom humor jamais permitiria isso. Papai era, e agora é, no Céu, muito feliz!

-

As linhas abaixo foram escritas por André para seu sogro, Jorge:

Jorginho... poucas vezes vi alguém tão feliz mesmo vivendo com pouco.

Para Jorge, que foi um ator cômico maravilhoso, bastava uma boa cerveja gelada, alguns belisquetes e a companhia da família para que tudo se transformasse em uma grande festa.

Jorge exigiu pouco da vida, e a vida, por sua vez, foi bacana com ele.

Nasceu em uma família linda, espiritualizada; teve avós e tios que o amavam muito; teve dois filhos lindos, que também o amavam muito; teve uma esposa maravilhosa, a Suely, com quem conviveu por mais de cinquenta anos. Um amor infinito, daqueles das novelas!

Sim, novelas que Jorge guardou em seu currículo artístico. Como esquecer do "Seu Naná", o chefe de torcida do Cantareira, em Torre de Babel (TV Globo); ou o pai do melhor amigo do filho do Otávio (Antônio Fagundes), em A Viagem (TV Globo). Jorge também esteve em novelas da antiga TV Manchete (Kananga do Japão e Mandacaru). E as propagandas de TV? Como esquecer da hilariante publicidade da Loterj ao lado do impagável Costinha? E as vinhetas da TV Globo, com Jorginho interpretando um bufão Sargento Garcia?

Ah, Jorge Napoleão, só nos resta agradecer por ter convivido conosco.

Beijo do teu genro André Felipe de Lima.

Jorge nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha e pelo genro de Jorge, Suellen Napoleão e André Felipe de Lima. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mateus Teixeira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 15 de dezembro de 2020.