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José Altamiro Almeida de Souza

1949 - 2020

Na nova viagem, com certeza terá muita história pra contar e novos amigos pra fazer. Tomara que tenha açaí!

Zé Miró, assim ele era conhecido por seus amigos da Fundação Nacional de Saúde, onde trabalhou por mais de 25 anos.

Nascido no interior do Amazonas e vivendo em plena floresta, era natural que fosse um grande amante da pescaria. Navegava pelos rios, onde sentia uma presença enorme da criação de Deus.

Deixa esposa, seis filhos e sete netos, com os quais sempre se preocupava muito. "Meu pai era um grande conselheiro. Somos muito gratos por sua conduta orientadora e dedicada em amar as pessoas", diz Nilton.

Sua outra grande paixão: ser um grande conhecedor da cultura de massa. Sua rotina era acordar às 5 horas da manhã, para ouvir todas as notícias pelo rádio. Depois assistia pela TV a todos os telejornais. As novelas não ficavam para trás... vibrava com os vilões! Mas ele se informava tanto, que quando contávamos algo, ou falávamos em internet, ele dizia que "já tinha as informações corretas e antecipadamente."

Era diabético e deficiente visual. Mas, tinha uma necessidade imensa de ser autossuficiente. Recusava-se a usar bengala, queria fazer sua comida e, às vezes, sair para comprar coisas sozinho... Não era fácil, "Seu José". Tinha gente que nem percebia que ele não enxergava, tamanha era sua desenvoltura.

Trabalho mesmo ele dava à esposa com sua "mania de ir ao banco". No mínimo três vezes por semana ele tinha que ir ao banco; e ninguém o convencia do contrário. "Minha mãe era sua fortaleza e o acompanhava, por cerca de uns três quilômetros, a pé, só para ele 'tirar extrato' e 'falar com o gerente'. Acho que era mais para ir falando com a multidão que ia encontrando pelo caminho", relata Nilton.

Adorava viajar. Nos trajetos, geralmente de barco, como adorava contar histórias... Já chegava no destino com amigos para o resto da vida! E, por incrível que pareça, os mantinha mesmo!

Já o açaí, ninguém descobriu se era uma paixão ou um vício... "Seu Zé" não podia ficar sem tomar, diariamente, o seu açaí. Quantas vezes trocou uma refeição por ele! Se notava alguém saindo de casa, já catava um dinheiro no bolso e falava: "Não esquece meu açaí!"

Seu filho, com saudade e muito amor, lembra que o pai deixa uma quantidade enorme de amigos, que o acompanharam durante seus momentos felizes neste mundo. E agradece por tudo, despedindo-se: "Descanse em paz. Sua missão nessa vida foi concluída com êxito."

José nasceu em Tefé (AM) e faleceu em Tefé (AM), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de José, Nilton Carlos Ferreira de Souza. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 17 de junho de 2020.