1936 - 2020
Brincalhão, prestativo e cuidadoso, era notado por onde passava.
Muito comunicativo, faltava falar pelos cotovelos. Sempre tinha boas histórias para contar e não perdia a chance de fazer uma piada. Na região de Taguatinga, no Distrito Federal, onde morava, conhecia todo mundo. Além de assistir aos jogos do Botafogo, um de seus passatempos favoritos era jogar damas e dominó com os amigos na praça do Berimbau.
Apesar de ter frequentado pouco a escola, era bem esperto e aprendeu a ler, escrever e fazer contas. Sempre muito ativo, não escolhia trabalho: foi de criador de gado em Morro do Chapéu, na Bahia, a funcionário público do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) em Brasília, cidade que aprendeu a amar e de onde não saía por nada.
Mesmo depois da aposentadoria, estava sempre procurando alguma coisa para resolver. Suas funções principais incluíam andar para tudo quanto é lado, fazer mercado, ajudar a cuidar das netas que moravam com ele, consertar bicicletas, fazer rede ou ainda, ajudar alguém com qualquer coisa. Isso seguiu até a chegada do Alzheimer, que diminuiu um pouco seu ritmo, mas não levou embora a disposição de reunir a família em casa.
Mais sério que a mulher, dona Nailda, não gostava muito de foto, mas estava sempre alegre e animado. Era difícil algo lhe tirar do sério, mas uma história específica o marcou. Desde sempre, soube que seus filhos teriam nomes começados com a letra "E", mas por um erro do cartório o plano deu errado logo no primogênito, que deveria se chamar Edilson e foi registrado como Adilson. Os demais, seguiram "certos": Enildo, Enilson, Edivania, Edileusa, Edivaneide e Edineide. Com a curiosidade de terem, todos os homens, Anacleto; e as mulheres, Amélia, como nome composto.
A vida, humilde e muito feliz, foi toda construída ao lado da mulher. Foram sete filhos, 18 netos e seis bisnetos. Moraram em três estados, venceram adversidades, cuidaram um do outro, comemoraram vitórias e, também juntos, partiram.
Por destino ou obra do divino, seu Zeca foi atrás de dona Nailda Amélia da Silva — que também recebeu um tributo em seu nome aqui no Inumeráveis — apenas algumas horas após ela falecer. E, assim, permanecem como sempre foram: companheiros inseparáveis!
José nasceu em Morro do Chapéu (BA) e faleceu em Brasília (DF), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de José, Ingrid Helena da Silva Souza. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mariana Campolina Durães, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 13 de setembro de 2020.