1947 - 2020
Sua humildade, carinho e fé eram tão presentes que contagiava. Sua doação pelo próximo foi linda de ver.
Aparecido, mais conhecido como Cido, era a alegria e o socorro da família, igreja e vizinhos. Sempre disposto a ajudar e com um sorriso no rosto, não importava no quê, lá estava ele, correndo para cima e para baixo com seu Escort ano 93.
Humilde em todos os momentos, não ligava para luxo, um arroz e feijãozinho, muito bem feitos pela esposa Dona Ana, já eram o suficiente. Por falar em comida, a hortinha deles, feita no fundo da casa, estava sempre bem cuidada, com alface, couve, cebolinha, tomatinho, hortelã, presença constante nas refeições. “Pode comer tranquila, não tem nenhum agrotóxico, filha”, costumava dizer, com orgulho.
Seu refúgio ficava em Minas Gerais, na cidadezinha chamada Córrego do Bom Jesus, onde possuía um sítio, uma casinha erguida com amor e dedicação. Como ele amava aquele lugar! Lá tem de tudo: mandioca, milho, batata, mexerica, amora. A cada estação ele plantava alguma coisa diferente. A terra, por ser brejo, não dava perspectiva de crescer e vingar muita coisa, não, mas o carinho e o empenho de Cido, cuidando dia e noite desse pedacinho de chão, fez com que cada grão, cada planta dessem frutos maravilhosos.
Sua maior felicidade? Ver os filhos, netos, nora e genros reunidos em casa, não importava a ocasião. Na maioria das vezes, a reunião era para fazer um churrasquinho na churrasqueira que ele mesmo construiu.
E seu maior descanso? Uma rede. Quem o conheceu sabe que isto era figura marcada dele: após o almoço ou à tardezinha, deitava-se na rede, com muitas histórias e momentos marcantes, muitos deles presenciados pelos netos, que tiveram a oportunidade de dormir nos braços do avô nessa rede tão confortável.
Homem de fé, criou todos os filhos na Igreja. Sempre presente, era o parceiro de oração de Dona Ana. Todo domingo de manhã, logo às sete e meia, acolhia, sorridente, os cristãos na entrada da igreja com um aperto de mão carinhoso.
Cido não parava, cada hora estava “inventando” uma coisa. Adorava sair para bater perna e encontrar coisas perdidas por aí para consertar e usar, como cadeiras e mesas quebradas. Vivia socorrendo os vizinhos, a consertar algo ou até mesmo fazer um “bico”, assentar um piso, instalar uma torneira. Ah, como ele tinha disposição!
Poucos dias antes de ser internado, lá estava ele fazendo planos: queria melhorar o espaço da churrasqueira e construir um novo banheiro – afinal, a família estava crescendo e ele queria providenciar mais conforto. E no próprio dia da internação, correu para arrumar o chuveiro. “Preciso consertar isso aqui pra veinha, não posso deixar desse jeito”, disse na ocasião.
José nasceu em Córrego do Bom Jesus (MG) e faleceu em Jundiaí (SP), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de José, Amanda Ormond. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Amanda Ormond, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 16 de maio de 2021.