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José Aparecido Fontanin

1958 - 2020

Dizia que não gostava da tristeza, pois ela não levava a nada.

José Aparecido, o amor de Raquel, pai e avô da família que construíram juntos e o amigo que irradiava alegria e bom humor.

"Um amor que não envelheceu". Fala Raquel, a eterna namorada de José Aparecido. Foram quarenta e três anos de casamento, duas filhas, um filho e uma neta.

Um amor que começou quando ambos eram ainda bem jovens, "éramos duas crianças aprendendo um com o outro", diz Raquel. Juntos produziram um romance de muitos capítulos, uma história linda. Três anos de namoro e o casamento aconteceu em 19 de janeiro 1980, e "foi uma jornada de felicidade", afirma com afeto a esposa. Desse amor nasceram três filhos: a mais velha é Geise Raquel, o do meio se chama Giedre José e a caçula é Geise Mara. A neta se chama Laura.

Raquel segue contando que, "podiam até brigar às vezes, geralmente por ciúmes, mas sempre acabavam se entendendo e nunca dormiam sem falar um com o outro". "Uma vez, tínhamos discutido, mas na hora de dormir, já estava tudo bem, ele me abraçou e disse que sabia que era tudo besteira", lembra com carinho.

A esposa Raquel diz que "desde os tempos de namoro, o marido sempre foi carinhoso, preocupado e atencioso com ela". E essas características de José Aparecido, estendiam-se aos amigos, filhos e neta; enfim, para todas as pessoas que conviviam com esse homem gentil, bondoso, tranquilo e de bem com a vida.

José Aparecido vai dar nome a uma rua da cidade onde nasceu e viveu toda a sua vida, uma homenagem justa ao homem caridoso que foi. Ele se preocupava com o semelhante, próximo ou não. Solidário, doava cestas básicas para quem precisava de alimento, e "se alguém o abordasse na rua, pedindo ajuda e ele só tivesse o casaco que vestia, ele tirava o casaco para doar", relata Raquel.

Sobre a infância, Raquel conta que o marido tinha duas irmãs e um irmão caçula, que veio a falecer. Diz que José Aparecido começou a trabalhar bem cedo, ajudando os pais no sítio. Teve uma infância difícil, em função das tribulações que sua família de origem enfrentava, mas foi um menino muito peralta e brincalhão, "tinha um nariz quebrado por conta das traquinagens de criança".

O menino "levado da breca" cresceu e se tornou um homem trabalhador. Trabalhou como torneiro mecânico por seis anos. Depois num supermercado, onde começou como empacotador e foi crescendo dentro da empresa, até chegar a gerente. Raquel conta que "tiveram uma mercearia por vinte anos e quando fecharam, o marido foi trabalhar numa rede de supermercados de um amigo". Ele conseguia cultivar essa amizade, apesar de o amigo ter virado seu patrão. Almoçavam juntos, e nesses almoços, frequentemente José Aparecido fazia chamadas de vídeo para a esposa, que escutava o amigo-patrão de seu marido brincar dizendo que "como ela não fazia comida para José, ele precisava alimentá-lo". E todos se divertiam muito nesses momentos.

Mas nem só de trabalho vive o homem, não é mesmo? José Aparecido tinha fé e a praticava; religioso, frequentava as missas todos os domingos junto com sua amada. Gostavam de caminhar de mãos dadas e frequentavam bastante as praias. Dizia sempre que "logo iria se aposentar e então o casal só se ocuparia de passear".

José Aparecido e Raquel, faziam quase tudo muito juntos; eram muito companheiros, como acontece, quando um amor resiste às intempéries inerentes à vida, num relacionamento de tantos anos.

Outra paixão de José Aparecido era pescar e para isso viajava para Miranda, no Mato Grosso do Sul, pelo menos duas vezes por ano, levando toda a família junto. Passou essa paixão para a filha mais nova.

Marido, pai e avô amoroso e dedicado, nunca deixou faltar nada para os filhos, e para a sua família que era, sem dúvida, o que ele mais prezava na vida.

Sempre muito brincalhão e festeiro, apreciava um bom churrasco em casa, que virava uma festa embalada por sua alegria de viver. Não admitia que ninguém se ocupasse em fazer nada: comandava a churrasqueira e providenciava tudo o que fosse necessário para que os convidados "só curtissem o momento", recorda Raquel.

O bom humor era uma das características mais marcantes desse nobre homem; Certamente, sua aversão a tristeza, era o que o levava a se empenhar tanto para alegrar a todos que com ele conviviam.

Em maio de 2020, José Aparecido foi acometido por dengue, e se recuperou. Dois meses depois contraiu a Covid-19. "Durante o período de seu adoecimento, quando eu perguntava o que ele estava sentindo, escutava como resposta: 'sinto que te amo'", lembra a esposa.

"Um dia, quando minha missão aqui acabar, nos reencontraremos e vamos caminhar de mãos dadas em frente ao mar. Até lá, seguirei te amando eternamente, pois você sempre será o amor da minha vida", são as palavras de despedida da eterna namorada, Raquel.

José nasceu em Limeira (SP) e faleceu em Limeira (SP), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de José, Raquel Aparecida Lucchetti Fontanin. Este tributo foi apurado por Marina Gabriely, editado por Cristina Marcondes, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 6 de agosto de 2021.