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José Augusto Cursino Soares

1960 - 2021

Palmeirense apaixonado, aceitou ir à torcida do time rival com a filha são-paulina, só para comer costelinha no camarote.

José aproveitou as delícias da vida desde o início. Na infância simples no interior, a mesa era farta. Ele cresceu apreciando os prazeres gastronômicos e se tornou um grande cozinheiro. Sua especialidade era comida vegetariana, mesmo sendo carnívoro. Ele aprendeu a preparar pratos sem carne para agradar as duas filhas e a esposa, todas vegetarianas.

"Tudo que ele fazia era gostoso, a batata recheada de queijo, mais ainda. Meu pai ficava todo orgulhoso quando elogiávamos a delícia que o prato ficava", conta a filha Maria Carolina.

Na cozinha, ele gostava de frituras, massas e "tudo que não fosse saudável", de acordo com a filha. Também tinha pavor de pimentão e detestava lavar louça.

Devido à comida, José até topou a assistir a um jogo do São Paulo, time do coração da filha. Ele era torcedor fanático do Palmeiras, maior rival do clube. Porém, Carolina ganhou o ingresso do camarote de um patrocinador, uma marca de steakhouse. "Ele disse que só aceitou porque podia comer costelinha com barbecue à vontade. Era meu aniversário e foi o melhor da minha vida", relembra.

O palmeirense colecionava itens do time. Com Maria Carolina, ele assistia a muitos programas esportivos. Em dias de jogos, eles chegavam a "brigar" de tanto que zoavam um ao outro. Maria Carolina também era fanática, mas pelo maior adversário.

Caseiro, ele amava maratonar programas de séries com as filhas e a esposa. Quando as meninas eram pequenas, sempre saía com elas para andarem de bicicleta.

As crianças eram o fruto do amor dele com Deborah, com quem foi casado de dezembro de 92 até 2021. Eles se conheceram em uma festa junina e nunca mais se desgrudaram. "Ele era de touro e ela de áries, pareciam cão e gato, mas se entendiam muito rápido também. Tinham um carinho muito grande um pelo outro". José falava que também tinha um filho: um cachorro que era seu xodó.

Uma das marcas de José era a vaidade, gostava de usar bons perfumes, andar bem arrumado e de receber elogios. Não era de dar passeios pela cidade, mas amava viajar.

"Foi o melhor pai que alguém poderia ter", declara a filha Maria Carolina. E ainda é, pois continua vivo no coração de quem o amava. Vive na saudade e principalmente no amor que continua a crescer entre aqueles que sempre foram especiais para José.

José nasceu em Ubatuba (SP) e faleceu em Blumenau (SC), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de José, Maria Carolina Borges Soares. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Camargos, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 28 de janeiro de 2022.