1965 - 2020
Carro, pra ele, era de vidro aberto. Nada de ar condicionado! Gostava de sentir o vento - e a vida - no rosto.
“Por um momento, houve muitas sirenes. Inúmeras ambulâncias soaram juntas, um sem-fim de sirenes para saudar quem amava profundamente ajudar a salvar vidas", conta a filha Lorena, sobre a homenagem feita pelos colegas de trabalho a seu pai, José, como reconhecimento a este dedicado profissional do SAMU.
Foi-se um homem forte e protetor. Na memória da filha, ficam os "abraços demorados e beijos nas mãos". "Eu amava tudo em meu pai, especialmente as mãos. Mãos que me seguraram tantas vezes. Quando era bebê, meu pai me sustentava apenas em uma mão, e eu me erguia em pé”, ela diz.
Lorena afirma que tem as pernas iguaizinhas às do pai, algo que seu filho, o pequeno Heitor, também herdou. José, a filha e o neto estavam sempre juntos, formando um "trio ternurinha". Antes, por 23 anos, quem formava o trio eram avô, pai e filha. Quando o pai de José, também Zé, se foi, o trio se desfez em tristeza, mas rapidamente retomou a forma, em 2019, com o nascimento do neto.
A partida de José deixa a filha assim, saudosa, e certa da eternidade de seu amor. "Sou apaixonada pelo meu pai, será assim para sempre. Ele sempre será o careca mais lindo e charmoso do universo", ela diz, e em seguida conta um caso: "Quando eu tinha 4 ou 5 anos, estávamos em um clube e eu, me achando a nadadora, não quis ficar na piscina das crianças. Por um segundo, meu pai desviou o olhar e eu me joguei na piscina dos adultos. Mas nem deu tempo de me afogar, no instante seguinte estava ele, dentro d'água, para me manter segura".
José gostava de cuidar dos seus. Amou a filha, amou o neto. Tinha como característica marcante dirigir sempre com os vidros do carro abertos, algo que agora a filha faz, sem rumo, só para senti-lo pertinho mais uma vez, junto com o vento que bate em seu rosto.
José nasceu em Nilópolis (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de José, Lorena Domingos de Azevedo da Braza. Este tributo foi apurado por Mariana Durães, editado por Renata Meffe, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 9 de agosto de 2020.