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José Carlos de Oliveira

1966 - 2020

Percorreu as estradas da vida levando alegria e amor.

Quando chegava de suas longas viagens pelas perigosas estradas do Brasil, o caminhoneiro José Carlos buzinava, já sabendo que a filha Karine o esperaria no portão para vê-lo e admirá-lo estacionando a carreta. Dos cinco filhos, ela era a mais apegada ao pai – o “chiclete”, como ela diz. “Fala, minha princesa!”, exclamava ele ao iniciar os telefonemas quase diários para a Karine já adulta – que lhe devolvia com um “papis”, provocando gargalhadas em José Carlos.

Ele começou a dirigir caminhões aos 17 anos, e isso o fez rodar pelo gigantesco território brasileiro. Era “o melhor motorista do mundo”, garante a filha. Seu apelido era “Cigano”, nem tanto por estar sempre se deslocando e por gostar da estrada, mas por ser desapegado. “Para qualquer pessoa que gostasse ou quisesse o que ele havia comprado, ele dava”, testemunha Karine.

Bem-humorado, “sua risada era inigualável e sua vontade era ver sorrisos, mesmo nas pessoas que não conhecia”, lembra Karine, que muitas vezes viajou com o pai. Ele se deliciava contando histórias. Nem que fosse preciso inventá-las. Seus causos “eram a nossa diversão”, recorda a filha.

Tinha, como maior amigo, o seu irmão Paulo. Com o neto Enzo, passeava de caminhão. E aos domingos, praticava kung-fu. Karine o acompanhava nos treinos. “Amava todo tipo de arte marcial, mas nessa ele se destacava.” Entretanto, era negligente com a diabete, o que complicou seu estado depois que foi infectado pelo vírus da Covid-19.

E assim partiu, para a última viagem, o “eterno herói do caminhão”, conclui Karine.

José nasceu em Garanhuns (PE) e faleceu em Diadema (SP), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Karine Aristides de Oliveira. Este tributo foi apurado por Luciana Fonseca, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de janeiro de 2021.