1949 - 2020
A música tomava conta de si, fosse com a viola caipira de outrora ou com os cantos na Igreja.
Autodidata com o instrumento musical de cordas, Zé Caipira – como era conhecido por todos do seu convívio – deixou o Sertanejo de Raiz invadir sua vida desde jovem. “Aprendeu a tocar viola observando os mais velhos e ouvindo rádio”, explica a filha Mônia, e chegou até a formar uma dupla para apresentações informais entre amigos. “Era apaixonado por cantar e tocar”, completa. Quando se converteu para a Igreja Evangélica, não abandonou a vocação, apenas mudou o ritmo. Passou a dedicar-se às canções religiosas e apresentações durante os cultos, tornando-se inclusive apresentador na rádio da Igreja local. “Amava fazer 'lives' nas redes sociais, alegrando seus amigos com músicas e orações”, acrescenta Nathalia, sobrinha-neta.
Nascido e criado na Zona Rural do interior paulista, em meio a uma família de dez irmãos, Zé Caipira ficou órfão ainda menino. Quando se mudou para a cidade, na juventude, ganhou conhecimento na Metalurgia, área em que trabalhou até a aposentadoria.
Ainda no começo da carreira, sem saber, paquerou a filha do chefe. Trocou olhares com Fátima, no trajeto do horário do almoço, até o cortejo evoluir para o namoro. Em um encontro furtivo, o pai da moça descobriu que conhecia bem o rapaz na indústria onde trabalhavam. A história virou casamento: Zé Caipira e Fátima formaram família, com a adoção de Mônia e, depois, de Henrique, ambos recém-nascidos. A chegada repentina da primogênita surpreendeu o casal, que aguardava com grande expectativa a fila de espera para adoções e acabou por tirar Zé Caipira de um evento de pescaria, seu principal lazer – depois da música, é claro. “Ele queria uma menina de cabelo preto e arrepiado”, diz a filha relembrando emocionada as palavras do pai sobre sua chegada.
Os filhos lhe deram quatro netos, a quem entregava todo o amor. Gostava das brincadeiras infantis e da companhia das crianças quando saía para pescar no seu sítio. “Dizia que o neto mais novo iria ser seu parceiro de pesca e deixava as meninas até passarem batom e esmalte nele”, conta Mônia saudosa.
Em notas, sons e boas lembranças, Zé Caipira deixou um rastro de alegria.
José nasceu em Angatuba (SP) e faleceu em Osasco (SP), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha e pela sobrinha-neta de José, Mônia Fernanda da Silva e Nathalia Karoline da Silva Rocha. Este texto foi apurado e escrito por Fabiana Colturato Aidar, revisado por Magaly Alves da S. Martins e Marília Ohlson e moderado por Ana Macarini em 13 de dezembro de 2021.