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José de Ribamar Guedes dos Santos

1965 - 2020

Seu fusca, que sempre quebrava, era o melhor carro do mundo; o conduzia a uma persistência exemplar.

Ao trabalhar com serviços gerais, José só ratificava aquilo que todos ao seu redor já apreciavam: seu talento em ter sempre uma solução para tudo. Foi assim no seu aniversário de 44 anos, quando a família se reuniu e alugou uma Kombi para ir à praia de Outeiro, no Pará, comemorar a vida. Todos foram surpreendidos quando o veículo deu defeito e parou de funcionar, mas a surpresa maior decorreu da brilhante ideia que logo surgiu: ir de ônibus. O plano deu certo e toda a Grande Família conseguiu chegar bem ao destino. Não se pode dizer o mesmo do bolo quebrado, que arrancou boas risadas e marcou ainda mais aquele episódio inesquecível.

O riso era mesmo a roupa favorita de José e insistia em seu rosto até nos momentos mais difíceis, como quando enfrentou problemas de saúde e precisou fazer hemodiálise. Era ele o paciente mais entusiasmado da clínica; tinha fé a correr pelas veias, junto ao sangue, e era dela que vinham a coragem e o poder de encorajar, tão espontâneos e vibrantes. Não à toa, o pai de três filhos, avô de seis netos e apaixonado pela esposa, amava também o Carnaval. Conduzia sua vida como se fosse um e, aos fins de semana, concretizava o desejo, sendo presença mais que confirmada nas celebrações.

“Tem muitos momentos que não podem ser simplificados. Passaria o dia todo falando e ainda não seria o suficiente”, conta Cleide sobre a intensidade de cada experiência vivida ao lado de José, seu irmão. O homem que tinha a alegria como solução universal deu tanto o seu melhor em vida que ficou em cada um que o conheceu. Quando é assim, toda a dor é solucionada com a mesma fórmula que ele usaria: uma alegria que invade, renova e purifica.

José nasceu em Belém (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de José, Cleide do Socorro Guedes dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Irion Martins, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de junho de 2020.