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José Eduardo Grego

1955 - 2021

De hábitos alimentares tradicionais, não dispensava arroz, feijão e carne em suas refeições.

Casou-se com sua primeira e única namorada, Yara. Ficaram juntos durante quarenta e dois anos; uma união repleta de amor e carinho. O casal foi abençoado com os filhos, Daniela e Marcelo e, mais tarde com a chegada dos netos trigêmeos Pietra, Raphael e Nicolle, e Maithê, filhos de Daniela.

Para os netos, era mais que um avô. Vivia uma relação especial com cada um deles. Era ele quem era chamado quando aprontavam algo na escola e que os acompanhava até o transporte escolar. Apelidou, carinhosamente, Raphael e Pietra de “cucos”, mas ninguém sabe o porquê. Para Maithê, cuja personalidade era bem parecida com a dele, dizia ter um caderninho para anotar suas traquinagens. De Nicolle recebeu inspiração para lutar com persistência contra obstáculos os obstáculos da vida. "Meu pai sempre fez parte de todos os momentos da nossa vida, minha lembrança mais marcante é da intensidade com que ele amava os netos", recorda Daniela. José era intenso em tudo o que fazia e agia o tempo todo com o coração gigante que sempre acolhia mais um. Assim, apegou-se às labradoras Luna e Lisa, seus xodós.

A paixão por pescarias era tamanha que o seu maior sonho era a compra de um lugarzinho perto da represa. Com a persistência que lhe era natural, pacientemente, esperava que os peixes fisgassem os anzóis. Quando trazia os pescados para casa, era uma celebração que terminava somente depois que ele limpasse uma a uma suas tilápias e de ter definido um dia especial para fritá-las.

Corintiano roxo, era um fiel e apaixonado torcedor do Alvinegro Paulistano. Nas horas livres, gostava também de navegar pelas redes sociais procurando vídeos ligados a cachorros e pescas. Era fã de rock'n'roll e gostava de escutar Raul Seixas, Led Zeppelin e The Doors.

Dizia que massa não era comida; para que ficasse satisfeito, tinha que ter um bom prato de arroz e feijão em todas as refeições. Também amava se deliciar com doces: balas, sorvetes, bolos, pudins e gelatinas sempre adoçavam seu paladar, embora não gostasse muito de chocolates.

Durante a vida, dedicou-se à profissão de pintor, ofício que exercia com muito afinco e capricho. Por ser alguém de extrema confiança, realizava pinturas em todas as residências do bairro e por indicações, muitas vezes, ia para bem longe, exercer sua função.

Devoto de Nossa Senhora Aparecida, foi batizado na Basílica da cidade de Aparecida do Norte, graças a uma promessa que sua mãe fez à Santa Maria. Tinha como hábito, manter sempre acesa uma vela de sete dias pedindo à Nossa Senhora saúde e proteção a todos. "Quando foi sepultado, coloquei junto uma pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida, com a qual o presentei meses antes para que Ela o encaminhasse à luz", conta a filha Daniela.

Como filho único dedicou-se, nos últimos anos, a cuidar de sua mãe, Rosalina. Os dois eram unidos por um afeto que chegava a emocionar quem os conhecia. Era ele quem a levava para tomar sol; que dava a comida em sua boca; que a levava ao banheiro e administrava meticulosa e cautelosamente os horários em que ela deveria tomar os seus remédios diariamente. Durante a Pandemia, tornou-se ainda mais cuidadoso e, por amor, mudou completamente seus hábitos para evitar que sua família e - principalmente sua mãe -, se contaminassem com a Covid-19. "Minha avó contava que meu pai deu muito trabalho na juventude, porém, na vida adulta, o jeito que ele cuidava e se dedicava a ela, era admirável e encantador", diz a filha Daniela.

José soube transformar os mares revoltos que a vida lhe impôs em águas de calmaria. Persistente, sempre dizia que na vida é possível recomeçar inúmeras vezes e que as coisas materiais ficam nesse mundo, mas o bem nos leva à eternidade.

E desta maneira realmente viveu e deixou este mundo para continuar as pescarias que tanto amou em vida, em um lugar lindo junto com os apóstolos Pedro, André e Thiago.

José nasceu em Santo André (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Daniela Grego. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Neuclenia Ferreira e Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 20 de dezembro de 2021.