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José Franco de Assis

1952 - 2020

Tinha o dom da escrita e gostaria de ter sido jornalista. Mantinha cartas e diários na gaveta de ferramentas.

Era uma mistura de fidelidade, amor e rispidez. Seu Franco, Zé ou Pressão, como era conhecido pelos amigos mais próximos e pela família, amava a vida que levava. Ao lado da Bernarda, criou os filhos Robson e Rodrigo. Batalhou muito para conquistar uma vida digna e decente para todos.

Nascido em Juquitiba, ainda pequeno foi para São Paulo e viveu praticamente toda sua vida no Capão Redondo, na zona sul. Ali, no início da década de 90, começou a trabalhar por conta própria consertando máquinas de lavar roupa. Amava seu trabalho: todos os dias saía cedo, ligava o carro e começava a atender seus clientes.

Mais tarde, mudou-se com Bernarda para Mongaguá, cidade pacata que, durante as temporadas, lotava de turistas. Costumava pescar no rio que leva o nome da cidade e gostava de comprar camarão nos barcos que chegavam à praia. Viveu uma vida simples, porém muito feliz.

Poucos sabem, mas ele escrevia também. Além das muitas cartas para dona Bernarda desde o começo do namoro, em 1982, relatou muitos fatos até os últimos dias de sua vida. Franco mantinha esse diário na sua gaveta de ferramentas.

Numa das cartas, guardada até hoje, ele declara a vontade de ser jornalista, sem imaginar que os filhos, à época ainda pequenos, viriam a se tornar jornalistas, assim como ele sonhou.

A família lembra com carinho de quando Franco fazia churrascos e contava histórias de suas pescarias, do seu Pedro ─ pai dele, das viagens que fazia de carro para o Maranhão com a família toda e das suas andanças de bicicleta pela cidade.

Ficam as memórias de um homem que batalhou por uma vida boa para si e para sua família, e a recordação do amor pelos filhos, irmãos, pais e pela esposa, nos quais encontrou a esperança em um mundo que estava longe de ser perfeito.

Mais do que saudades, Franco deixa como herança o ensinamento de que viver bem e intensamente é o maior sentido da vida.

José nasceu em Juquitiba (SP) e faleceu em Itanhaém (SP), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de José, Robson Carlos Almeida de Assis. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Renata dos Passos e moderado por Rayane Urani em 10 de março de 2021.