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José Lima Cunha

1961 - 2020

Genioso e de opinião forte, preferia muitas vezes a paz de permanecer em silêncio.

Fazia 11 anos que Narjara não via o pai, José. Dele, as principais memórias que ela guarda são da infância. "Lembro do meu painho me pegando pra passear de bicicleta. Ele colocava eu, minha irmã Mayara e também mainha pra andar de bicicleta pelas rua de Fortaleza", conta ela. "Lembro do quanto ele era contente."

Morador da capital cearense, ele torcia para o Palmeiras e ela para o Flamengo. Mas sobre isso não discutiam. Na verdade, José não gostava de falar da vida dele não. Preferia ficar "na dele" pois, na visão da filha, não queria levar preocupação aos familiares.

Ele era, sim, genioso e tinha opinião forte. E era também um trabalhador incansável, que gostava de sair para comer fora com a família aos finais de semana.

O destino fez com que pai e filha passassem anos distantes e se reaproximassem somente agora, após mais de uma década e apenas assim, de relance. Ele teve tempo de dizer que em breve iria visitá-la. Ela não teve tempo de pedir perdão por, muitas vezes, não atender ao celular quando ele ligava. Algumas palavras que ela não disse, coloca aqui: "Mesmo à distância, graças a ele me tornei uma mulher forte e especial. Era assim que eu queria que ele me visse quando nos encontrássemos".

Mais uma vez o destino afastou pai e filha, mas é certo que um dia eles se reencontrarão. E tudo será dito.

José nasceu em Picuí (PB) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Narjara Sauer Silva Cunha . Este tributo foi apurado por Milena Flor Tomé, editado por Phydia de Athayde, revisado por Didi Ribeiro e moderado por Rayane Urani em 11 de junho de 2020.