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José Lola de Amorim

1929 - 2020

Da Paraíba para Brasília. De Brasília para BH. Foi aí que conheceu seu amor e fez morada.

José foi um paraibano que nasceu como um bilhete premiado. Foi o único homem no meio de 18 mulheres, e esse era apenas um dos motivos que o fez ser a paixão de seus pais.

Tendo nascido numa família tão próxima, foi corajoso para embarcar numa missão que o deixaria um pouco mais longe de casa. Como ele mesmo sempre contava, “foi da Paraíba até Brasília de pau de arara, viajou por treze dias para chegar lá no dia 7 de setembro de 1953”. Tudo isso para ajudar na construção de Brasília. “Ele contava muitas histórias, da catedral, de tudo lá, até do presidente Juscelino Kubitschek que ele chegou a ver pessoalmente”, lembra Lucas, sobrinho de José.

José percorreu mais um pouco do Brasil até chegar em Belo Horizonte, sem saber que ali conheceria um amor que o acompanharia a partir de então. Nas banalidades do dia a dia, conheceu Francisca, a quem apelidou, com afeto, de "fia". Lucas conta que “Ele falou assim: ‘nasceu mais uma flor no meu jardim’. Aí, foi assim que eles começaram a namorar e se conheceram. O amor deles era tão grande que foi tudo rápido. Os dois eram muito companheiros um do outro. Ele tinha um carinho imenso por ela e ela por ele”.

Nas palavras de quem conviveu de perto com José, ele era a alegria da casa. Tinha uma bondade que irradiava na família toda e até para quem ele nem conhecia. “Meus bichinhos” era o jeito carinhoso que chamava as crianças, a quem dava a dedicação e o carinho de pai, de avô, e de tio. “Tudo que ele podia fazer por nós, ele fez”, recorda o sobrinho.
Foi homem de riso fácil e contagioso, muito brincalhão. Por ter sido registrado anos depois que nasceu, José tinha mais anos do que constava em seu documento, e brincava, dizendo “a minha idade nenhuma calculadora do mundo deve conseguir calcular”.

José marcou a vida de quem o conheceu, deixou saudade enquanto morou longe e agora “a gente segue em frente com o legado que ele deixou, que é a família em primeiro lugar e o amor ao próximo”, nas palavras Lucas. São marcas de exemplo e carinho que ficam lembradas em cada pedacinho de chão que ele viveu, e em cada alma que o conheceu.

José nasceu em Santa Luzia (PB) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 91 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho de José, Lucas Mateus de Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por Gabriela Pacheco Lemos dos Santos, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 6 de maio de 2021.