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José Lourenço dos Santos

1955 - 2020

Honesto e brincalhão. Um pernambucano de sorriso marcante e muito compreensivo.

Seu Zé estava sempre disposto a ajudar quem precisasse e era um excelente amigo, apaixonado pelas netas e muito carinhoso com elas e com as filhas Joselia e Joselma.

Deixou sua cidade natal, entre o Agreste e a Mata pernambucana, para buscar melhores condições na capital paulista junto à esposa Toninha, com quem conviveu e que amou até sua partida em 2012.

Ao deixar uma das "Sete Maravilhas de Pernambuco" ─ a Terra das Águas ─, como é mundialmente conhecida a cidade de Bonito, o jovem casal foi para São Paulo, onde ela começou a trabalhar em casas de família e ele numa indústria metalúrgica.

Na chegada à capital paulista, moraram de aluguel por muitos anos, até que conseguiram juntar um dinheirinho para comprar um terreno aos pés do Pico do Jaraguá, onde construíram um cômodo simples e ali começaram a criar as filhas. "Na época, ainda havia poucas casas no local, tudo era distante, mas, aos poucos, as coisas foram se ajeitando", conta a filha Joselia.

No mesmo ano do falecimento da esposa, José conseguiu se aposentar, mas nunca parou: estava sempre procurando algo para se ocupar. Pintava, reformava, arrumava o telhado... e fazia favores aos que lhe procuravam.

Após o falecimento de Toninha e com a chegada da segunda filha de Joselia, a mais que especial Kariny, pai e filha ficaram ainda mais apegados, apesar do susto inicial ao tomarem conhecimento do cromossomo a mais que a pequena era portadora, José passou a zelar ainda mais pelas filhas e cinco netas. "Quando Kariny nasceu, a primeira reação do meu pai foi 'a falta de reação', mas o susto inicial transformou-se num amor incondicional pela mais nova netinha, fazia de tudo por ela: levava ao médico, às terapias, buscava na escolinha... fazia questão de participar de tudo! Ele dizia que se minha mãe estivesse viva e conhecesse a Kariny, ela iria tomá-la de mim, de tanto que iria amá-la", prossegue a filha.

José também gostava de passear pela rua com as netas, comprar doces para todas e, nos finais de tarde ─ mesmo quando estava fazendo frio ─, sentar-se na calçada para jogar conversa fora. Era daqueles que faziam questão de compreender tudo o que diziam, prestava atenção nas conversas e sempre dava boas opiniões e palpites, tudo sem tirar seu marcante sorriso do rosto. Quando sorria, seus pequenos olhinhos se fechavam ainda mais, conta a filha. "Era lindo de se ver!"

O sonho de José, assim como da sua falecida esposa, era ter uma chácara ou uma casinha na praia. A filha mais velha, Joselma, conseguiu realizar o sonho dos pais apenas depois da partida de ambos, mas todos sabem que lá terão as bênçãos deles e viverão momentos felizes próximos ao mar.

José se preocupava tanto com a sua pequena família de mulheres ─ as duas filhas e as cinco netas ─, que Joselia ainda sonha com o pai dizendo "eu tô aqui!" enquanto ganha, em sonho, um abraço forte e carinhoso de José. Outras pessoas próximas também têm sonhos similares, com José ainda por aqui, zelando por elas.

Para as filhas, o que conforta é a certeza que agora ele está feliz ao lado de dona Toninha, a mulher que sempre amou. Joselia faz um pedido ao pai: "Cuide de cada um de nós e nos proteja daí do Céu!" E finaliza: "Nós, aqui na Terra, te amaremos eternamente e jamais iremos esquecê-lo, pai".

José nasceu em Bonito (PE) e faleceu em São Paulo (SP), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de José, Joselia Antônia dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Phydia de Athayde em 5 de fevereiro de 2021.