1975 - 2020
Psicólogo, falou em lives sobre o luto na pandemia; foi um conselheiro sensível do começo ao fim.
Mário foi infinito nos 44 anos em que esteve na Terra. Psicólogo, militante político, corintiano, espírita, poeta, irmão, amigo, pai e esposo são algumas das definições de quem ele era. Porém, Mário foi, continua a ser, ainda mais...
Antes de qualquer coisa, José Mário era um grande pensador. Observava as minúcias do viver por meio da arte, psicologia e do próprio prisma. Sua sensibilidade e conhecimento o fez um ótimo ouvinte e aconselhador.
Amava MPB, especialmente Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. A leitura fazia parte das atividades de que mais gostava. Entre os hobbies também estavam ir ao cinema, teatro e jogar Fifa. Ainda gostava de programas esportivos e de entrevistas, além de se deleitar com os prazeres da mesa ─ adorava comer.
Nasceu a fórceps, contradizendo a maneira sensível com que levava a vida. Por causa do parto, medicou-se em todos esses anos para controlar as crises convulsivas. Um atropelamento também o deixou com alguns centímetros a menos na perna. O acidente aconteceu em Tucano, Bahia, sua terra natal.
Radicado em São Paulo, reverenciava sua raiz nordestina. Amava a sua origem.
Era o pai apaixonado de Caio e das gêmeas Maria Júlia e Maria Clara. O voto de "até que a morte os separe" foi cumprido por ele e a esposa, Edlaine Mota, uma mulher iluminada, parceira por vinte e oito anos.
Queria conhecer a cidade de Chico Xavier, não deu. Mas a irmã, Gabriela, garante que os que ficaram aqui irão com Mário à casa do médium. "Vamos lá com ele, Mário em espírito e nós em carne, em 2021", planeja.
Trabalhou na Listel, Amil e Omint. Pouco antes de fazer a passagem, José Mário abriu um consultório em Pinheiros. Não chegou a atender no espaço, mas, no início da pandemia, compartilhou os conhecimentos para ajudar em diferentes problemas que o coronavírus trouxe.
Inclusive, fez uma live, com a participação de outra profissional, para falar sobre luto nesse período. Brincou, nos minutos iniciais, que só a família estava ali. Hoje, ao olhar para trás, nota-se que Mário deu orientações até sem saber para quem mais amava sobre como lidar com a partida dos entes na pandemia. A transmissão continua no ar e foi vista por muitas pessoas, ele continua a cumprir a missão de ser "um médico da alma".
Um apaixonado pelos pais, José Mário Santana Sobrinho, falecido em 2014 e pela mãe, Iracema de Brito Santana, que partiu em 2018, ele sentia muita falta deles e estava sempre reflexivo sobre a vida.
Suas principais frases eram: "A vida não é bolinho" e “Lute pelo melhor, espere pelo pior e aceite o que vier”.
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Carta aberta de Gabriela para o irmão Mário
Uma legião de sentimentos.
Em 1985, eu nascia, meu irmão mais velho já contava 10 anos, o do meio estava com 5 e, desde então, eu fui inundada de amor, era amor de todos os lados, eram quatro seres me enchendo de mimos, amor, amor, carinho e mais amor.
Quando completei 7 anos, meu irmão mais velho começou a me apresentar livros, poesia e música. Nossa casa sempre foi muito musical...
Foi aí que ele nos apresentou Legião Urbana e meu sentido de vida mudou. Renato Russo sempre escreveu letras com muita profundidade, letras muito pungentes de dores reais, de vida vivida e aquelas letras se misturavam à nossa vida, ao nosso cotidiano, ao nosso crescimento.
Para cada fase da minha vida tenho uma letra do Legião para exemplificá-la, para essa fase de agora, a fase de mais dor e sofrimento, que eu nem em pesadelo imaginei viver, tenho uma, que sempre foi desde a minha infância a música mais dolorosa de se ouvir, hoje eu vivo dolorosamente cada frase dessa música, agradecendo por você ter me escolhido como irmã, por você ter me ensinado a ser melhor, por você me dar vida, mesmo estando do outro lado da margem.
A doutrina espírita, da qual compartilhávamos, nos trouxe o entendimento, nos trouxe a certeza do reencontro, e a inexistência da morte, mas sim da eternidade da vida. Deu-nos o verdadeiro compromisso com a caridade, que vai muito além de dar algo a alguém, mas de se dar a alguém. E nos nossos dias difíceis, que se estendiam até hoje, nos trouxe a certeza de que a dor devastadora da separação jamais será maior que a explosão de alegria do reencontro.
Estou devastada, sinto-me no deserto, é uma mutilação do órgão mais vital que temos: o coração.
Mas sou grata, porque você é nosso irmão, foi na nossa família que você veio, e é nela que você permanece e com ela que seremos felizes, juntos, em breve. Te amo.
José nasceu em Tucano (BA) e faleceu em Itapecerica da Serra (SP), aos 44 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela irmã de José, Gabriela de Brito Santana. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Talita Camargos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 3 de fevereiro de 2021.