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José Máximo de Oliveira Irmão

1961 - 2020

O taxista 297. Um nordestino trabalhador e honesto com muito orgulho.

José Máximo era o Taxista 297. O número de referência dado a ele na Cooperativa Ligue Táxi era também a forma que muitos o conheciam.

Para ele, não existia frio ou calor, sol ou chuva que fossem motivo para não trabalhar. Mas o plano do Taxista 297 era ir morar na Barra da Jureia e, num contato mais próximo com a natureza, viver da pesca e meditar na praia. A ideia era ter, enfim, uma vida tranquila após sua aposentadoria. Com as próprias mãos já havia dado o pontapé inicial em seu sonho: construiu no local escolhido uma casa que amava.

A filha Cristiane afirma: "ele foi a pessoa mais trabalhadora que conheci, era taxista há mais de quarenta anos e se contaminou trabalhando. É provável que o vírus chegou até ele vindo de um passageiro que ele buscou no aeroporto".

De gênio e opinião fortes, estava sempre "no pé" dos familiares, ligando, se preocupando e, sobretudo, cobrando mais contato. Era fã de um bom forró, de um bom churrasco e da comida nordestina aos domingos, quando ele mesmo cozinhava.

Sempre que pensar num exemplo de homem honesto e trabalhador, Cristiane se lembrará do pai e, por isso e por tudo que ele representou e ainda representa para ela, Cristiane oferece abaixo uma linda e merecida homenagem ao pai, na forma de uma carta aberta:

Nordestino com orgulho, foi um dos milhares que saíram da roça em busca de uma vida melhor. E ele conseguiu. José Máximo venceu à custa de muito suor.

Mesmo sendo dono de uma personalidade forte e difícil, era a base e a fortaleza da família. Um pai dedicado que nunca deixou nada faltar.

Era apaixonado pela natureza, pela pescaria...

Como esquecer de uma vida inteira do seu lado? Sempre te achei uma rocha, mas sua partida deixou claro para mim que todos somos frágeis e que nossa passagem por aqui tem data e hora para terminar. Pena que não sabemos quando!

Está muito difícil sem você. Nada me preenche. Às vezes ainda tenho a impressão que a qualquer momento você vai ressurgir. Quando abro a porta da sala, sinto o desejo quente no coração de te encontrar no sofá assistindo televisão; ou quando vejo um táxi e ainda olho para ver se não é você no volante: ilusão. Mas vou seguir mesmo assim, com a esperança de que um dia talvez, em algum lugar, possa te reencontrar e recuperar o tempo perdido com bobagens.

Vou te honrar até o fim...

Pai, não vou me despedir, pois no meu coração você sempre viverá.

Saudades, Seu José Máximo.

José nasceu em Bananeiras (PB) e faleceu em São Paulo (SP), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de José, Cristiane da Silva Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Sandra Maia e moderado por Rayane Urani em 16 de dezembro de 2020.