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José Miguel da Silva

1936 - 2020

Pela sanfona ou pela gargalhada, ele era reconhecido de longe.

José Miguel ou Tio Zé tinha “a gargalhada mais gostosa de se ouvir”, contam os sobrinhos Ana Cristina e Fábio Miguel.

Ele gostava de jogar baralho e dominó. “Quase todos os dias jogava com amigos”, dizem os sobrinhos.

Mas, o que ele gostava mesmo, era de encantar e alegrar a família com seu calango mineiro na sanfona — manifestação cultural tradicional do norte e da zona da mata mineira. Afirma o sobrinho Fábio Miguel que “nos encontros familiares, principalmente nos aniversários de minha avó paterna, vinha lá Tio José com sua sanfona branca e preta juntando seus irmãos e familiares, inclusive meu pai, João, que gostava mais da dança, porém arriscava também no pandeiro e nos versos. Cada um tocava um instrumento, timba, zabumba, pandeiro, às vezes tinha violão e triângulo”.

E até as panelas alimentavam as festas com seus sons. “Quando faltava instrumento, um pegava uma panela limpa ou suja para tocar também”, lembra o sobrinho.

Foi assim que os sobrinhos conheceram e foram desafiados com os versos, as rimas e os compassos do Tio Zé. O sobrinho Fábio Miguel inclusive conta que anos mais tarde “a cultura popular passou a ser um dos meus meios de vida e pesquisa”.

Tocador e parceiro do tio, o sobrinho finaliza sua homenagem: “Alguém tinha que alegrar esse outro plano. Vai lá, meu Tio José tocar seu calango”.

José nasceu em Minas Gerais e faleceu em São Paulo (SP), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelos sobrinhos de José, Ana Cristina de Paula e Fábio Miguel. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Denise Stefanoni, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 13 de setembro de 2020.