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José Natalino da Silveira

1945 - 2020

Ler o jornal sentindo a brisa da praia e brincar com os netos no mar estava entre as suas maiores alegrias.

Quando ouvia o “Hino de Reis”, louvando a chegada do menino Deus em 25 de dezembro e a viagem dos três reis para presenteá-lo, escorriam lágrimas dos olhos de José Natalino. Era o orgulho que sentia de seu pai, um tocador de folia de reis chamado Ostil, que rezava em versos cantados para “Deus salvar a casa santa, onde mora o Deus menino e a hóstia consagrada”, era a lembrança afetiva da mãe Emília e dos irmãos, era a saudade dos amigos e dos passeios na praça da pequena Viradouro, cidade onde nasceu. Era a celebração da sua própria vida.

José Natalino ou Natal era casado com Elizabeth, com quem teve os filhos Flávia e Fábio. Da primogênita, herdou duas “joias raras”, suas paixões: os netos Matheus e Heitor. Sempre carinhoso e amável com a filha, ligava para cumprimentá-la no Dia das Mães e agradecia o melhor presente que havia recebido: os netos. “Sentia orgulho e não cansava de dizer o quanto éramos afortunados de ter esses meninos”, conta Flávia.

Por isso, enquanto não conseguia realizar o sonho de se mudar para Maceió, amava visitar a filha, o genro e os netos na capital alagoana. Apreciar o mar enquanto tomava uma cervejinha, ler o jornal sentindo a brisa da praia, brincar com os meninos no mar ou ouvir e admirar suas histórias. Eis a receita de realização de José Natalino.

A praia já era o destino da família desde quando Flávia e Fábio eram pequenos. José Natalino era comerciante, no ramo de vendas, em Jales, e aproveitava seus dias de férias para sair do interior paulista rumo ao litoral.

Além do mar, Natal também gostava de assistir a filmes, torcer para o Corinthians e ouvir sertanejo raiz. “Ele se emocionava com a música ‘As Andorinhas’”, lembram a filha Flávia e o irmão Osnir.

No silêncio ou na teimosia, no interior ou no litoral, José Natalino deixa um vazio em toda família. Na verdade, Natal e Elizabeth deixam um vazio e muita saudade. Por isso, em oração, a família agradece a presença dos dois que continuarão vivos nos corações e pede a Deus que o casal esteja bem!

“Te amaremos para sempre, meu pai! Tenho certeza que sabia como era querido!”, despede-se a filha com a lembrança da voz amorosa entoando “Flavinha” e dos três beijos no mesmo lugar do rosto.

José nasceu em Viradouro (SP) e faleceu em São José do Rio Preto (SP), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha e pelo irmão de José, Flávia e Osnir Custódio da Silveira. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Denise Stefanoni, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 24 de junho de 2021.