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José Orlando Pereira da Silva

1953 - 2020

Em tudo que se propôs fazer, manteve o amor e a perseverança. Resolvia as coisas com calma e segurança.

José Orlando aprendeu cedo o que era a labuta da vida. Criado na roça, no interior maranhense, era o mais velho de sete filhos. Assumiu ao lado da mãe os afazeres da casa e, com apenas seis anos, já mexia na cozinha para aprontar a comida. Capinava quintais e fazia pequenos trabalhos para ajudar com o sustento da família, abastecida precariamente pelas atividades informais do pai.

Na pequena Carolina, no Maranhão, já jovem, conheceu Albertina. Eram vizinhos e frequentavam a mesma igreja evangélica. Com a partida dela para Brasília, por conta de um emprego, José Orlando não vacilou. Juntou suas coisas e a ela se uniu pouco tempo depois. Também não demoraram para ter Oséias, Joelma, Jeane e Jeferson, que lhe deram três netos. Beijava-os sempre com o maior amor do mundo.

Ali recém-chegado na capital federal, viu a oportunidade de prestar concurso para a Polícia Militar e seguiu com êxito a carreira, até se aposentar como Capitão. “Não se arrependeu de não ter esperado a patente de Major porque queria estar mais tempo com sua família”, relembra Joelma. Com a aposentadoria, José Orlando e Albertina decidiram mudar-se para Palmas, no Tocantins, onde ele realizou o sonho de comprar uma chácara e voltar aos hábitos de origem, mexendo na lavoura. Plantava feijão, milho, hortaliças e se aprazia da rotina rural. Cuidava da saúde e nutria hábitos saudáveis, incentivando ainda a esposa para caminhadas diárias. Estar em família lhe dava alegria, apesar de o coração lhe apertar com a morte do primogênito, em 1994. Sempre acolhia parentes e amigos em sua casa e não perdia as festinhas entre eles.

Sua timidez nunca o impediu de conquistar os muitos amigos, porque seu jeito simples e amável agradava a todos. Juntava a esse traço de personalidade a postura ética e honesta. “O maior exemplo que meu pai me deixou foi a atitude ética. Ele não admitia qualquer tipo de ‘carteirada’”, orgulha-se a filha, que também sente a falta do pai para as longas conversas que mantinham sobre política. “Era um bom ouvinte, paciente, não se alterava mesmo que tivéssemos opiniões distintas. Agora parece que não tenho mais ninguém para conversar”, fala Joelma com tristeza. Pela descrição da filha, José Orlando mantinha a calma com quem quer que fosse.

Política e filosofia eram áreas que lhe interessavam, também para as leituras nas horas de lazer. Com o ensino médio completo, chegou inclusive a cursar a graduação em teologia, mas acabou por não concluir.

Amava viajar e conhecer novos lugares. Estar no litoral, caminhar na praia e fazer suas ginásticas eram um grande motivo de felicidade. Pouco antes da pandemia, nas últimas férias que passou com a esposa e a filha Joelma na Península de Maraú, na Bahia, começou a construir novos projetos: “fizemos planos de comprar um terreno ali e futuramente ter uma casa à beira-mar”, ela conta. A emoção fala alto: “vai ser difícil voltar lá e não me lembrar de meu pai”!

José nasceu em Balsas (MA) e faleceu em Palmas (TO), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de José, Joelma Santos da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 24 de setembro de 2021.