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José Otoni Moreira

1948 - 2020

Guardião do Rio São João, encarava o ser humano como parte da natureza e dedicou a vida a preservá-la.

Era no rio que banha o estado do Rio de Janeiro, o Rio São João, que Mestre Tuti encontrava seu ponto de paz. No leito do rio, seu guardião lançava a tarrafa para pescar e remava em seu curso recolhendo o lixo ali deixado. Transformava esses gestos, de menosprezo com a natureza, em arte para enfeitar seu jardim. Teve o privilégio de morar na localidade onde o rio deságua, no distrito praiano de Barra de São João, lugar em que amava viver.

Agir em prol da mudança, não importando que dimensão alcançaria, era o que movia José Otoni, o eterno Mestre Tuti. Além de sua causa como ambientalista, também era instrutor mecânico do SENAI. Lecionar também foi uma de suas grandes paixões na vida.

A integridade, uma de suas tantas virtudes, marcou a união que manteve durante trinta e cinco anos com sua primeira esposa, Diva, com quem teve três filhas, suas heranças deixadas na Terra: Milene, Roberta e Sabrina. Somente a morte de Diva foi capaz de separá-los. Viveu intensamente seus últimos onze anos ao lado da amada esposa Elineide.

Deixou uma promessa em aberto à filha Sabrina, disse que iriam juntos à Aparecida do Norte, cidade da padroeira do Brasil, agradecer à Nossa Senhora por se recuperar da Covid-19.

Mestre Tuti, o guardião do Rio São João, também se destacou por suas risadas e seu jeito brincalhão, mas o sonho que cativava, de acreditar na mudança do ser humano o marcou profundamente. “Não media forças para ir até o Rio São João com seu barquinho. Ficava atento com o riscado do peixe e, ao mesmo tempo, com o resgate do lixo para a preservação do rio”, relata a filha Sabrina.

“Preservar e transformar muda vidas”, esse foi o ideal do Mestre Tuti, eternizado em sua memória.

José nasceu em Trairi (CE) e faleceu em Casimiro de Abreu (RJ), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de José, Sabrina Moreira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 16 de dezembro de 2020.