1970 - 2020
Todos o conheciam como Zeca do Chuchu, devido à trajetória como vendedor de hortifruti.
A origem na zona rural da Paraíba deu a José, desde os 12 anos, a referência para trabalhar como vendedor ambulante de bananas. A renda ajudava nas despesas da casa, conduzida apenas por sua mãe. A família, apesar de numerosa, pouca convivência lhe proporcionou durante a vida adulta, inclusive pela perda prematura dos pais.
A independência financeira conquistada por José bem cedo permitiu que ele fizesse sua primeira grande aquisição – um caminhão de carga, com o qual viajava para os estados vizinhos para o transporte de banana. O comércio como autônomo lhe rendeu um bom domínio da matemática, mesmo sem ter frequentado a escola. “Era rápido nas contas”, diz a nora Ana Beatriz. O trabalho com o caminhão prosperou e José abriu seu próprio negócio no Ceasa de Patos, cidade paraibana onde se estabeleceu permanentemente. Com o nome de Zeca do Chuchu, a loja vendia produtos de hortifrúti para a região. Não se sabe o que veio primeiro, se o apelido ou a designação do estabelecimento, mas era assim que ele se fazia conhecido para todo lado.
A essa altura, já tinha também uma família constituída, pois o casamento aconteceu logo aos 17 anos. Diego, Deusânia e David nasceram com pouca diferença de tempo. Nessa época, a labuta e o vaivém com o transporte de cargas eram intensos. Os meninos, desde a juventude, inspiraram-se para seguir os passos do pai. Ana Beatriz conta que o mais novo, com 15 anos, até aprendeu a dirigir caminhão, o que ajudou para que pai e filhos sempre trabalhassem juntos. “Certa vez, quando ele adoeceu, acompanhava o filho nas viagens para outros estados porque não sabia ficar parado".
José rodeou-se de mais filhas – Wilyane e Vitória –, fruto do seu segundo casamento, e Joice, que nasceu de um outro relacionamento. A prole lhe deu netos – Alícia, José Pedro, João Gabriel e Theo – e com isso seu coração amoleceu. “Ele era muito apegado aos netos. Depois de ter virado avô, acabou ficando mais próximo dos filhos”, relata a nora. “Toda tarde, às 16 horas, ele vinha até minha casa tomar café para ver o neto. Às vezes também buscava na escola".
Outro prazer de José era comprar motos e carros velhos para reformar e revender. “Ele tinha gosto para fazer negócio, daí vendia isso a preço de banana”, ela revela em tom de brincadeira.
Alegre e namorador, José apreciava conversar com os amigos na calçada e na praça municipal. Teimoso por natureza, saía às escondidas para comer pastel na feira, pão doce, ir à lanchonete, tomar refrigerante, tudo que não lhe era permitido por conta da diabetes. “Ele era uma formiguinha”, brinca. “Mas também adorava sopa e toda comida de milho, como o ‘quarenta’, um bolo típico regional de coco com milho para o café da tarde”, completa Ana Beatriz. E a nora resume: “Ele sempre tinha uma boa história pra contar, seja qual fosse o assunto, sempre dava os melhores conselhos e era um ótimo comerciante”.
Recuperou as memórias da vida no campo quando adquiriu um sítio por perto de onde morava. Para lá se refugiava todos os dias para cuidar das criações de animais. Nos fins de semana, era o lugar marcado para as reuniões de família. “Ele acordava antes do amanhecer para alimentar os pássaros, adorava ouvir o canto das aves".
José nasceu em Remígio (PB) e faleceu em Patos (PB), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela nora de José, Ana Beatriz de Lima Rodrigues. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 27 de abril de 2022.