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José Ribeiro da Silva

1946 - 2020

Gostava de um forró bem animado e de uma boa buchada. Amava dona Cícera e era fervoroso na fé.

Era conhecido em Patos, na Paraíba, como Calunga de Tatita. Pedreiro, vendedor ambulante e pintor, José fazia de tudo um pouco. Gostava de contar histórias sobre seus familiares; as aventuras dos avós, tios e primos sempre eram um prato recheado com muito bom humor. Nunca perdia as esperanças de ganhar na loteria.

Foi casado durante quarenta e oito anos com dona Cícera Soares, que faleceu trinta dias antes dele, em decorrência do Parkinson. Juntos, os dois tiveram os filhos: Silvio, Virgínia, José Sérgio (falecido ainda criança) e Sérgio Alysson. Ao todo foram quatro netos: Andressa Helen, Maria Adriane, José Antônio e Miguel Ângelo, e três bisnetos: Ágatha, João e Olívia. Amava estar em família.

Muito religioso, visitou várias vezes Bom Jesus da Lapa, na Bahia e também foi conhecer a terra de padre Cícero, em Juazeiro do Norte, no Ceará. Era um católico fervoroso que rezava o terço diariamente com a esposa.

Amante de uma boa conversa e de um copo de cerveja, José gostava também de música e apreciava um forró bem animado. Para completar, era fã das comidas típicas do seu Nordeste: uma boa buchada, pamonha, canjica e carne de bode.

Quando a esposa ficou doente, José passou a cuidar de tudo, inclusive da cozinha. Sempre de bom humor, gostava de cozinhar e cantar alegremente. Às vezes, servia dona Cícera direto na boca. Sua comida tinha gosto de amor.

A família lembra com carinho uma história engraçada: quando ele era adolescente, namorava uma vizinha e, em uma das visitas que fez à moça, estava sentado ao lado dela e tentou levantar para esconder um arroto, mas o efeito foi contrário: o arroto saiu (e bem alto!). Todos na sala escutaram e José, constrangido, foi embora e nunca mais voltou. Acabou-se o namoro.

Estava sempre disposto a ajudar os amigos e familiares que precisassem. No coração imenso do Calunga de Tatita, sempre cabia mais um. Era um eterno sonhador. Positivo como era, dizia: "Tenho esperanças de que tudo isso vá chegar ao fim". Depois de sua partida, a cozinha ─ e a casa ─ ficaram um pouco mais silenciosas. Saudades pra sempre, José.

José nasceu em Patos (PB) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha e afilhada de José, Maria do Socorro Leite Soares. Este tributo foi apurado por Denise Pereira, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 27 de novembro de 2020.