Sobre o Inumeráveis

José Roberto Fragoso de Siqueira

1951 - 2020

Se saísse de casa, podia esquecer de tudo, menos de pentear seus cabelos e de se perfumar.

Era mais conhecido como Fragoso, o amado. Por onde ia, encontrava um conhecido, pois amava ajudar as pessoas e isso fazia com que fosse amigo de todos.

O amor pelas relações sociais fez com que ele, após os 40 anos, formasse em Direito. A graduação era apenas para poder ajudar mais pessoas além daquelas que ele já iluminava com palavras e abraços prontos para serem distribuídos e recebidos.

Fragoso era um grande acumulador de papéis. Desorganizado para as coisas materiais, mas impecável na aparência: sempre com a barba feita, os cabelos cortados e as roupas elegantes.

Fazia suas orações toda manhã e a missa de domingo era sagrada. Além disso, fez muitos amigos na paróquia que frequentava e que acabou levando para a vida. Em especial, o casal Maria e Afonso, que foram seus padrinhos de casamento.

Preguiçoso quando o assunto era cozinhar, mas fã número um do arroz à piamontese com picadinho e molho madeira que sua esposa Nadija, que chamava carinhosamente de "minha querida", fazia.

Foi corretor de imóveis e era muito determinado quando queria realizar alguma tarefa, pesquisava profundamente sobre o assunto até estar satisfeito. Era curioso, amava conhecimento e se distraía muito facilmente, mas nunca deixava sua competência de lado.

Mencionava a família frequentemente em suas conversas. Sete irmãos, duas filhas e um neto. Seu primo Davi, era considerado como a um irmão e sua prima Anna, como a uma irmã mais nova. Sua alegria era acompanhar o crescimento do neto Davi, que ele costumava chamar de "neto" e nunca de Davi ou outro apelido.

Fazia muitas anotações e tinha o costume de se referir às pessoas como "amado" ou "amada", o que fez com que ele passasse a ser apelidado assim também.

Flamenguista fiel, seu gosto musical era bastante eclético: adorava forró, Roberto Carlos e a banda Coldplay. Tinha um amor especial por passeios e viagens, e não deixava de ir a Camboinhas, sua praia preferida em Niterói (RJ). Seu sonho era construir um sítio na cidade fluminense de Seropédica para fazer uma plantação.

“Uma vez, meu pai comprou uma Caravan 1986, e partimos para o Nordeste. Fizemos uma viagem de carro até o Recife, foram dois dias e uma noite de aventura. A Caravan, pela qual era apaixonado, virou nossa casa nesses dias. Quase sofremos um acidente por causa de um motorista imprudente de uma carreta, mas Deus nos deu um grande livramento.

Viajar de carro foi um sonho que Fragoso realizou. "Dava para ver o brilho nos olhos dele quando chegamos lá em segurança e, pela primeira vez, foi pular o carnaval com o Galo da Madrugada. Essa viagem foi, sem dúvida, a melhor de nossas vidas", conta a filha Raissa.

Davi, o neto de 4 anos, hoje conversa com o "vovô Beto" olhando para o céu. E é pela inocência inata das crianças que podemos ter certeza que hoje o "amado" Fragoso responde do céu direto pro coração daqueles que ele tanto amou, trazendo conforto e lembranças inesquecíveis que ele presenteou em vida aos seus inumeráveis amados e amadas.

José nasceu em Recife (PE) e faleceu em Rio de Janeiro (RJ), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Raissa Fragoso. Este tributo foi apurado por Beatriz Maia, editado por Aléxia Caroline, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 18 de fevereiro de 2021.