1932 - 2020
Zezé Metralha era um avô cuidadoso que aguardava com ansiedade a pescaria anual no Araguaia.
José vivia em Trindade, cidade goiana famosa pelo turismo religioso e por abrigar o Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, conhecido nacionalmente.
Perdeu a mãe quando era muito novo, ainda criança. Talvez isso explique a união que reinava entre seus oito irmãos. Era o mais velho dos homens que, de tão parecidos fisicamente, receberam o apelido de Irmãos Metralha. Como parte de um par de gêmeos idênticos, José era conhecido como Zezé Metralha.
A Covid-19 causou uma perda tríplice entre os irmãos que se mantiveram unidos além da vida também. Treze dias após a partida de José, um dos irmãos também faleceu e após dois meses da primeira perda, a família deu adeus a outro.
José teve três filhos homens e uma mulher e ficou viúvo no ano 2008. Foi amoroso e muito bom para a esposa e para os oito netos. Não era de brigas com ninguém e parecia estar sempre procurando fazer de tudo para todos. Com isso, tornou-se aos olhos da neta Érica “a melhor pessoa do mundo”.
Ela, que era filha de sua única filha, cresceu morando no mesmo lote que o avô e recorda-se com carinho de vê-lo preparando todos os dias o seu café da manhã e o lanche para levar para a escola. Quando abria a porta de sua casa, lá estava o leite com chocolate e o pãozinho com manteiga, gestos de amor que serão eternamente lembrados.
Sempre gostou de cozinhar e ver a família unida, por isso, quando podiam, todos vinham de longe para comer suas especialidades culinárias: frango com molho de açafrão e xerém, um prato feito com farinha de milho e carne de porco. Gostava demais de comer angu.
Corajoso, alegre e vigoroso, era exemplo de saúde. Não sabia nem o que era tomar remédios. Vivia sorrindo e contando piadas provocando risadas ao redor. Com seu jeito engraçado e divertido, fazia amizade com todo mundo nos lugares que frequentava.
Trabalhou bastante na vida, foi garimpeiro quando jovem e, mais tarde, serralheiro.
De gosto diversificado em suas distrações, gostava de roça, de andar a cavalo, jogar caixeta, contar seus causos e das plantas e animais de estimação, especialmente os cachorros. Não abria mão de escutar um modão antigo, assistir à missa na TV e acompanhar os jogos de futebol pela rádio.
Pescador por natureza, todos os anos passava o mês de julho no Rio Araguaia e esperava ansiosamente por isso.
José, que era o elo de união da família, deixa saudades eternas de suas prosas.
José nasceu em Inhumas (GO) e faleceu em Goiânia (GO), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de José, Erica Cristina de Oliveira Araújo. Este tributo foi apurado por Thyago Soares e Hélida Matta, editado por Vera Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 14 de fevereiro de 2021.