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José Sérgio de Oliveira Silva

1971 - 2021

Construía estantes de livros com lâmpada acoplada para que as crianças pudessem ler à noite.

Sérgio era um homem que poderia ser definido como de 'mil e uma utilidades'. Profissionalmente, iniciou a carreira como militar e, embora tivesse grande desejo de seguir na corporação, foi por outros caminhos, com as mais variadas funções. Trabalhou como vigia e cortador de cana. Tantas eram suas habilidades que foi marceneiro, eletricista, soldador, carpinteiro, pintor e, assim, ele sabia fazer de tudo, principalmente se fosse para agradar aos filhos. Dedicado em tudo que fazia, era também muito criativo, como as estantes de livros que fazia, com lâmpadas, para que as crianças pudessem ler seus livros à noite.

Ele nasceu em Alagoas, mas viveu no estado do Mato Grosso. Sabia curtir as pequenas coisas da vida. Gostava demais de jogos de tabuleiro, um bom filme e um saboroso vinho. Apaixonado por esportes, era fã do Flamengo e apreciava uma boa música, em especial se fosse de Roberto Carlos ou Tim Maia. Tinha tanto amor que expandia até aos animais.

Dono de uma personalidade forte, defendia seus ideais e dois grandes sonhos: concluir a Faculdade de Matemática e envelhecer em uma praia em Alagoas, comendo frutos do mar.

Pai do Allysson e da Ludmilla, doava-se aos filhos ensinando-lhes a ter orgulho de suas origens e os incentivava a estudarem e a conquistarem sua independência financeira.

Recordando-se de sua presença forte e marcante, a filha segue firme levando seus ideais, praticando e tentando repassar o que aprendeu com ele. Assim ela relata sua rotina: “Todos os dias me levanto, vou trabalhar na empresa que ele trabalhou por quase vinte anos. Pego o mesmo ônibus que ele pegava e tento honrá-lo da melhor forma possível.”

Na sua tentativa de matar as saudades, ouve seus áudios e suas músicas favoritas e vê as fotos que tiravam. Através do cultivo de sua memória, diz ela: "Torno meu pai vivo todos os dias dentro de mim”.

Sérgio deixou no coração dos familiares a lembrança eterna da melhor pessoa que conheceram, com sua risada estrondosa e um coração enorme, tomando como lema uma frase do livro “Meus Desacontecimentos” de Eliane Brum: "Pode ser que hoje ele só viva em mim - e a memória seja a única vida que eu possa lhe dar".

José nasceu em Maceió (AL) e faleceu em Tangará da Serra (MT), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Ludmilla dos Santos Oliveira. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 12 de julho de 2021.