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José Victor de Lima

1951 - 2020

Amoroso, atencioso, alegre e brincalhão, ele nunca mediu esforços para cuidar e apoiar os filhos.

Um mineiro que fez a vida em São Paulo exercendo alguns ofícios e lutando para criar os filhos com amor e oportunidades. Casou-se duas vezes e teve quatro filhos: Verônica, Fernando, Gustavo e Lucas.

Em Diadema, cidade da Região Metropolitana de São Paulo, foi dono de bancas de jornal, mas vendeu as unidades para seguir um grande sonho: abrir um restaurante e viver cozinhando. Sonho realizado em São Bernardo do Campo e vivido por seis anos. Depois, decidiu dedicar-se a um outro amor: a marcenaria. José adorava fazer trabalhos com madeira, colocar portas e janelas, além de impecáveis telhados romanos.

Era tão bom e dedicado ao ofício que, quando o filho Fernando anunciou que se casaria, trabalhou durante muitas noites, colocando tijolinho por tijolinho, até construir um anexo à casa onde vivia para o primogênito morar. Dizia que, para ele, aquele era um motivo de orgulho e que, se tivesse saúde, faria mais.

No entanto, em 2015, sofreu uma queda de oito metros que o afastou desses trabalhos mais pesados. Mesmo aposentado, José não conseguia ficar parado. Precisava sentir-se ativo. Por isso, abriu um barzinho na garagem de casa.

No tempo livre, costumava cozinhar pratos típicos da culinária mineira e comandar churrascos deliciosos. Tudo feito com muito amor. Outro programa que nunca recusava era uma boa pescaria — e como todo pescador, tinha infinitas estórias. Era também muito alegre e brincalhão e amava estar na presença da família.

Para os filhos, um pequeno texto, chamado “Quando me bati (sic) saudade de ti”, escrito pelo próprio José, resume bem quem ele era: “Tenho um jeito esquizito (sic) de amar, mas é amor. Tenho um jeito esquizito (sic) de ser. Mas sou um ser, que sabe chorar, pedir desculpa, perdão, só não sei deixar de te amar”.

Essa foi a forma dele passar pela dor de perder a filha Verônica, que morreu de pneumonia no início de 2020, na Bahia, quando ainda não existiam testes para Covid-19. A partida deixou uma marca profunda no pai, que não pôde ir ao velório.

Alguns meses depois, apesar de cauteloso, fazendo uso de máscaras e álcool em gel, acabou infectado pelo novo coronavírus em julho de 2020. Precisou ser internado e seu maior medo era ser intubado.

Para o filho Fernando, o que conforta é pensar que “somos seres espirituais tendo uma experiência humana” e que, por isso, José encontrou e pôde se reconciliar com a filha amada em um outro plano ou uma outra vida, mas com o mesmo amor de sempre.

José nasceu em Pratápolis (MG) e faleceu em São Bernardo do Campo (SP), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de José, Fernando Victor de Lima. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mariana Campolina Durães, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de janeiro de 2021.