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Joselita de Araujo Lima

1959 - 2020

Só descansou quando soube que seus sete cachorros estavam com quem ama os animais.

O amor de dona Lita pelos cães foi o sustento de toda a família e de sua alma. Antes de trabalhar com canil e no início da empresa, a renda era parca, chegou a deixar de comer para que os dois filhos se alimentassem. Com o tempo, o empreendimento cresceu, o dinheiro passou a ser suficiente, mas sem regalias. Ela sempre foi a única responsável pelo sustento da casa.

Cuidava dos animais como filhos. Quando se aposentou, ficou com sete cães: Nikole, Sheike, Fiona, Pedrita, Marley, Suzy e Menina. Segundo a filha Ellis, ninguém ousava dizer para ela se desfazer dos cachorros, mesmo tendo pouco tempo para si. É que ela amava mesmo dedicar boas horas aos amigos peludos.

Dona Lita nunca foi apegada a bens materiais. O apego era destinado inteiramente às pessoas, especialmente aos familiares, e aos cachorros. O grande sonho desta mulher era ter uma casa grande, que abrigasse todos. Ela gostava de ver o marido, o casal de filhos, as duas netas e os sete cães juntos.

Ficou famosa no bairro Engenheiro do Meio, Recife, onde residia e trabalhava. Nas andanças de bicicleta pelo bairro, não havia quem deixasse de cumprimentá-la. Simpática, estava sempre com uma pochete na cintura para as tarefas na rua.

Nas saídas para seus afazeres, era vista nas esquinas a conversar com os moradores da vizinhança, pois todos gostavam de Joselita devido ao grande coração e à mão estendida para ajudar. Não raro, ela tinha a palavra amiga da qual se precisava.

No hospital, duas eram suas grandes preocupações:

1. A netinha mais velha, Sophia, seu xodó, de quem sempre falava à enfermeira;

2. Os filhos de quatro patas: todos mandavam fotos e vídeos para que ela visse que estavam bem.

Dona Lita só partiu quando teve certeza de que os sete cachorros ganharam donos que os amavam. Foram adotados por gente da família, que se inspira em Joselita para continuar a cuidar deles com todo o amor do mundo.

Joselita nasceu em Recife (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Joselita, Ellis Luana Araujo de Moraes. Este texto foi apurado e escrito por Talita Camargos, revisado por Otacílio Nunes e moderado por Rayane Urani em 10 de setembro de 2020.