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Josué Rosa de Oliveira

1973 - 2020

Um amante da justiça e da paz.

Das cantigas de vaquejada, que tinham gosto de infância no interior do Alagoas – onde nasceu e onde se criou –, às repetidas vezes que colocou para tocar trilhas sonoras de novelas. Josué, homem sério e tranquilo, tinha seus ápices sonoros muito distintos e tão personalizados. Toda vez que chegava após um longo dia de trabalho como vigilante, punha o rádio para tocar e viajar o Brasil, e mundo, afora. Tudo isso sem sair de dentro da própria casa.

Era março de 2020 quando ele ganhou companhia nessas noites musicais. Conheceu Nilza, por meio de um aplicativo de relacionamento. Dividia playlists e fazia planos, ao mesmo tempo. Com as normas de distanciamento social, necessárias para conter o avanço do novo coronavírus, o casal programava se encontrar o quanto antes para darem aquele bom abraço, carregado de sentimento tão reprimidos pela distância.

Enquanto não chegava o momento, conversavam. Juntos, contavam uns aos outros sobre suas respectivas vidas, dividiam alegrias, compartilhavam dúvidas, lembravam histórias – algumas tristes, outras felizes. Josué, enfim, revelava a sua trajetória. Nascido em Quebrangulo, criado em Palmeira dos Índios e habitante de Maceió, a capital do estado, ele era o mais novo dos nove irmãos. Infelizmente, o primeiro dos filhos de Luiz e Quitéria a deixar a família.

O vigilante narrava, ainda, as preocupações do trabalho e sempre estava disposto a ajudar quem quer que fosse, seja com palavras ou ações. Talvez por isso, ou por outras qualidades, ele era tão admirado pelos colegas.

Poucas semanas antes de partir, Josué se preparava para enfim conhecer a amada. Queria que fosse no dia de seu aniversário, em 10 de julho. Ele falava: “Só Jesus Cristo pode impedir esse encontro”. Porém, duas semanas antes, Nilza e os familiares receberam a notícia sobre seu falecimento. “No fim das contas, não pudemos nos abraçar”, relata a namorada.

Vai ser difícil para ela, agora, escutar a música “Heaven”, de Bryan Adams, e não se lembrar de Josué. Em um trecho da canção, Adams canta: “We're in heaven”. Que em português, significa: “Estamos no paraíso”.

Josué nasceu em Quebrangulo (AL) e faleceu em Maceió (AL), aos 46 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela namorada de Josué, Nilza de Barros Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Lucas Eduardo Soares, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 10 de setembro de 2020.