1939 - 2020
A vida longa foi muito breve para um amor tão grande.
Cristiano diz que uma das lembranças mais felizes que guarda de seu pai é a de quando ele ia buscá-lo na escola: “Todo dia era uma aventura fazer aquele trajeto na garupa da bicicleta dele”. Apreciador de futebol, legou ao filho a paixão pelo São Paulo: “Não perdia um jogo e ficávamos conversando sobre o nosso tricolor sempre depois de uma partida”.
Um homem de bom coração, sem dúvida: “Meu pai sempre foi reconhecido pela sua bondade, pelo carinho e respeito com que tratava a todos, sem nenhuma exceção”. Tanto que não falava muito de seus sonhos. Era alguém dedicado a pensar nos outros.
Mesmo depois de aposentado, após mais de trinta anos trabalhando na manutenção de metalúrgicas, vivia consertando: “Nunca parou, sempre estava arrumando uma coisa aqui e outra ali, não podia ver um cabo de panela solto e lá estava ele com a ferramenta na mão pra arrumar tudo que via pela frente”, recorda Cristiano.
Sua maior alegria era a família, formada pelos três filhos e pela esposa, com a qual foi casado durante quase sessenta anos. “Não tivemos um único Natal e passagem de Ano Novo em que não estivéssemos juntos”, orgulha-se Cristiano. Jurandir dedicou-se incondicionalmente à felicidade da família, “apesar de todas as dificuldades”.
Era comovente a devoção com que ele cuidava do filho mais velho, portador da síndrome de Down: “Ele foi a sombra do Márcio durante cinquenta e sete anos, foi a paciência, o amigo, a ternura e o carinho que só quem teve o privilégio de conviver com o seu Jurandir pôde ter a dimensão”.
Foi um afeto tão intenso, que o pai não suportou ficar cinco dias sem ver Márcio, internado também em decorrência da covid-19: “De tanto amor e de tanto sofrer pela ausência do filho querido, o senhor Jurandir não aguentou tamanha tristeza”, acredita Cristiano. Talvez seja isso o que se chama de “morrer de amor”.
Jurandir nasceu em Dois Córregos (SP) e faleceu em Osasco (SP), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho de Jurandir, Cristiano Fernandes. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Joaci Pereira Furtado e moderado por Rayane Urani em 21 de setembro de 2020.