1950 - 2020
O caminhoneiro de bondade sem limites que organizava em álbuns de fotos os mais belos momentos da vida.
O pai dele veio do Japão, da cidade de Hiroshima, aos 3 anos de idade. A mãe era nissei, filha de imigrantes japoneses, mas já nascida no Brasil. Onaka nasceu em Lins, no Estado de São Paulo, antes que a família se mudasse para Paranavaí, no Paraná, cidade onde ele, ainda jovem, trabalhou na loja de bicicletas da família, a Bicicletaria Onaka.
Mais tarde, foi morar em Campinas, onde conheceu a futura esposa Maria Antônia, a querida Toninha, no ponto de ônibus em frente aos correios no centro da cidade. Na época, trabalhava nos correios como telegrafista.
O encontro gerou um grande amor. Tinham um pelo outro raro carinho. Tiveram dois filhos, Bruno e Juliane. No início do casamento, os tempos ficaram difíceis financeiramente, mas Onaka era determinado, para ele não tinha tempo ruim, não se abateu. Mesmo não sendo o ideal, resolveu ir para o Japão em 1996 e lá ficou um ano longe da esposa e dos filhos, morrendo de saudades. Suportou esse tempo na certeza de que logo poderia voltar e dar à família uma vida melhor.
Valeu o sacrifício. Com os recursos conquistados na terra de seus ancestrais, retornou ao Brasil e conseguiu comprar um caminhão para trabalhar como motorista. E assim, passou a exercer a profissão de caminhoneiro até se aposentar. Criou com muita dignidade os filhos, manteve a força do casamento por trinta e seis anos e se tornou um avô protetor e amoroso, porto seguro para Larissa, sua única neta e grande paixão.
Tinha a fama de ser um homem saudável, que nunca tinha ficado doente até que chegou a Covid-19. Levantava cedo todos os dias, andava muito de bicicleta fazendo acrobacias em uma roda só, causando admiração à sua volta. Pedalando ia ao mercado, fazia as compras para a casa, era dinâmico e prestativo.
Aos domingos, assistia ao programa Antena Paulista. Recebia os parentes e os amigos sempre com um cafezinho, muitas vezes com os legumes empanados de um delicioso “tempurá” e ainda oferecia balinha doce. Cozinhava muito bem, especialmente os pratos da culinária japonesa: seu sushi era imperdível.
Não bebia, não fumava, amava a vida. Adorava os velhos filmes do Mazzaropi preservados em fitas antigas que ainda assistia. Mantinha o espírito jovem como nos tempos do Paraná, quando participou da banda Gralha Azul executando a parte técnica de iluminação. Gostava muito de ouvir as músicas dessa banda que lhe era tão familiar. Também era um bom contador de piadas e criador de inspirados trocadilhos.
De memória invejável, quando andava pelo bairro onde morava, a Vila Castelo Branco, em Campinas, cumprimentava um a um, conhecia todo mundo pelo nome. Guardava as datas de aniversário e ligava para dar os parabéns. Era respeitado e admirado pelos vizinhos; generoso, nunca negava ajuda, mantendo a proximidade e cultivando empatia. Irradiava bondade: às vezes, só um "bom dia", nomeando as pessoas, já as alegrava.
Dono de uma capacidade de organização incomum, Onaka usou essa virtude para cultivar seu principal hobby. Tirava foto de tudo. Via um passarinho, tirava foto, mantendo registrado com seu espírito o encanto pela magia da vida. Imprimia as fotos que selecionava como melhores, organizava-as detalhadamente e adorava mostrar as mais antigas, satisfeito por poder compartilhar com quem amava os registros de sua história.
Onaka e suas boas ações fazem falta, mas seu sorriso eternizou-se impresso nos corações daqueles que com ele conviveram, assim como nos álbuns de fotografias que ele organizou com esmero para honrar as melhores memórias da vida.
Kensso nasceu em Lins (SP) e faleceu em Campinas (SP), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho de Kensso, Valdemar Borbolato Moreira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Bettina Turner, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 17 de janeiro de 2021.