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Laderson do Souto Moura

1937 - 2020

Se vestia de palhaço para curtir o frevo e o Galo da Madrugada no Carnaval pernambucano.

O primeiro ofício de Laderson foi ajudar o pai a administrar padarias. Ele ganhou o apelido de Pão Doce porque sempre experimentava a primeira fornada; não por ser ossos do ofício, mas porque de tudo na panificação era do que mais gostava. Depois, tornou-se funcionário público, foi exemplo de empenho e honestidade.

Apaixonou-se pela esposa, Maria da Conceição, em uma excursão. Apenas a morte os separou. Ela partiu a pouco menos de quatro meses das bodas de ouro deles. Contavam quarenta e nove anos e oito meses de uma união feliz, marcada por passeios à beira mar - especialmente em Porto de Galinhas -, e nas montanhas pernambucanas - na cidade de Gravatá -, onde também se encantavam com as flores da serra. Muitas vezes essas viagens eram feitas em família, com as duas filhas do casal, Jacinta e Maria José. Ele também ia às missas, restaurantes, cafés e eventos familiares com elas.

"Meu pai era um senhor cavalheiro e tinha uma grande reserva moral. Nos ensinou a acreditar que os sonhos se realizam", conta a filha Jacinta.

Curtia o Carnaval, sempre fantasiado de palhaço, em um bloco sem nome, mas muito animado, pelas ruas de Pernambuco. Era um folião que não perdia o tradicional Galo da Madrugada. Amava frevo, o preferido era o de Capiba, especialmente o verso "Nós somos madeira de lei que cupim não rói".

Foi um cristão que disseminava a palavra. Até mesmo quando esteve hospitalizado, falou de Jesus e seus ensinamentos enquanto pôde. "Viveu bem e feliz. No hospital, deixou rastros de sua alegria. Contou suas histórias e deu nome aos seus", conta a filha.

Jacinta afirma que ama quando perguntam-na se ela é filha de Laderson. "Com orgulho, respondo que sim".

Era o avô babão de Lucas e Luiza, filhos de Maria José. A formatura do neto em Direito, que ocorreu no final de 2020 era um dos assuntos preferidos de Laderson. O vovô também aplaudia a neta que havia acabado de ser aprovada no vestibular, também de Direito.

Partiu em um dia de festa, seu próprio aniversário, 2 de maio de 2021. "A festa de painho foi transferida para o céu", assim a filha entende.

Do alto, com sua amada Maria, faz o que sempre fez enquanto viveu na Terra: vela por sua família.

Laderson nasceu em Recife (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Laderson, Jacinta de Fátima Coutinho Moura. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Camargos, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 22 de julho de 2021.