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Lino Rodrigues Machado

1958 - 2020

"Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança."

Meu maior amor e melhor amigo.

Lino, o nome que já soprou suave nos meus ouvidos. Ele, natural do Rio de Janeiro, por toda vida dedicou-se a servir a Deus. Homem de família simples, cinco irmãos — nunca chegou a conhecer o mais velho — e duas filhas. Foi casado com Dona Juraci Maria, por quase 40 anos e ganhou um filho de 10 anos de idade, na época. Anos depois, esse filho, Anderson, daria a Lino um neto, Tales.

Já com a filha mais velha, Julianne, fruto de outro relacionamento, ele não teve a oportunidade do convívio. Quando lhe possibilitaram a chance de ficar perto do pai, ela trouxe consigo mais dois coraçõezinhos, suas netas, Júlia e Giovana. Sua outra filha, Quézia, fruto da união com a dona Juraci, foi a ponte desse reencontro, proporcionando a imensa alegria para o coração do pai.

Em casa, com sua família, “juntinha, pequenininha e tão bonitinha”, assim ele gostava de se referir, no diminutivo, só demonstrava o homem grande, que carregava um coração tão fofinho. A família Machado, formada por ele, sua esposa, sua filha e o genro Wellington, que se tornou um filho para ser seu companheiro de cada dia. Outra característica marcante era o homem de bom papo, que se esquecia de voltar para casa quando estava na rua. A conversa boa hipnotizava Lino.

Era um homem bondoso, que respirava paz e amor. Nunca foi visto entristecido. Era aquela pessoa que estava sempre feliz, que não sabia brigar. Pelo contrário, ele zelava pelos seus. Não era carinhoso, no sentido de melar. Mas, com a chegada do genro na família, foi fortemente influenciado a mudar. Um homem muito ativo e prendado, que fazia questão de ajudar, desde lavagem de roupas até dar faxina na casa.

O que ele mais amava fazer era ir buscar por Deus. Ir à igreja e declarar o seu amor por Ele. Em meio a esse caos que estamos todos sobrevivendo, ele se sentava nos fundos de casa e ficava ali, o dia todo, estudando a Bíblia, alguns livros e ouvia louvores. Assim a paz fazia morada.

O amor por Deus foi o seu caminho; não se importava com os bens materiais, com as futilidades deste mundo. O que foi sempre importante era cuidar da sua salvação e estar nos braços de Deus, onde ele está agora, no calor dos braços do Pai. Juntos, olhando por vocês aqui.

Falando sobre amor e paixão, sempre preferiu os cachorros. Para ver um belo sorriso e brilho nos olhos do senhor Lino, bastava lhe mostrar fotografias e vídeos dessas criaturas amigáveis e, simples assim, a alegria invadia o seu coração. Os cachorros de rua eram seus. Todos os dias tinha água e comida no seu portão e todos tinham um nome escolhido por ele. Onde ele estava, lá estavam seus “amigos”.

Aquela pessoa conhecida e querida por todos era o senhor Lino. Tinha, em particular, o seu queridinho. Um envolvimento de amor, companheirismo, cumplicidade com o genro, que considerava filho, Wellington Martins. Esse caso de amor era recíproco. Onde estava um, era possível encontrar o outro. Caso o “filho” demorasse a chegar do trabalho, lá estava o senhor Lino, esperando pelo genro, no portão. Esse foi o posto ocupado pelo genro desde que chegou na vida desse senhor. O único com a permissão para verificar a glicose, para cortar o cabelo, era seu filho Wellington.

O Amor fraternal ele viveu aqui, com vocês, Família Machado!

Lino nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Lino, Quézia Machado. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Jamília Lopes Soares, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de julho de 2020.