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Lionete Ribeiro da Silva

1951 - 2020

Fez dos amigos os seus filhos, guardados na sua generosidade.

Lionete era o sorriso brando na recepção onde trabalhou junto com Ana Paula, por 15 anos. Era uma bondade em forma de gente. Nunca se casou, porque seu grande amor morreu e ela jurou que seria só dele. Nunca teve filhos, então fez de todos, os seus filhos.

"A gente se sentia guardado, acolhido e alimentado. Se um de nós dissesse que estava com fome, lá estava a Léo passeando entre nossas mesas distribuindo biscoitos. E se ela mesma não tivesse, já ia ver alguém que tivesse pra dividir entre os demais." lembra Ana Paula.

Seu otimismo às vezes até irritava, mas todo mundo acabava vencido porque ela insistia sempre em dizer que se não deu certo era porque não era o certo.

A sua idade se diluía nas conversas com o grupo que tinha pessoas de todas as idades. Ela virou mãezona e depois avó dos filhos das funcionárias. Foi madrinha de casamento, virou família.

E cozinhava cada delícia que comiam até cansar: o famoso baião de dois da Léo, ninguém fazia igual. Os chefes corriam para pegar uma boquinha.

E adorava tirar onda com os cabelos dos colegas, porque já tinha sido cabeleireira. Quando sobrava tempo no horário do almoço, vez ou outra ela ainda dava uma canja nos cabelos da mulherada e até arrumou o cabelo do técnico do TI.

"Mas se tem uma coisa que nunca vou esquecer é o que ela sempre me dizia quando me via com baixo astral: Fofinha, coloca um batom bem vermelho, ensaia um sorriso e vamos distribuir simpatia pra fazer inveja a quem te quer mal."

Lionete nasceu Fortaleza (CE) e faleceu Fortaleza (CE), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Jornalista desta história Sandra Maia Farias Vasconcelos, em entrevista feita com colega de trabalho Ana Paula Leite da Silva, em 17 de maio de 2020.