2020 - 1935
Era apaixonado pelo jogo de bocha. Na primeira bola batida no campo, era ele quem aparecia, geralmente de chinelos.
Seu Lourenço foi casado com Maria Ortiz e aquela história de amor, iniciada num baile na juventude, se transformou numa relação marcada por muito amor, companheirismo, carinho e paciência que gerou os filhos Maria Aparecida, Ivone e Jorge durou 67 anos até que a morte dele os separou.
Era extremamente amoroso e presente com todos ao seu redor e a filha Maria Aparecida se recorda com carinho da infância vivida ao lado do pai: "Nossa infância foi maravilhosa! Quando morávamos na toca, sempre tinham cantatas à noite com sanfoneiro e fogueira. Depois, quando mudamos para São Paulo, não tínhamos televisão em casa e ele nos levava muito longe para que pudéssemos assistir aos programas. Nos finais de anos, fazia questão de nos levar para a Festa no Ibirapuera".
Quando pequena teve problemas de visão que demandaram tratamentos em outra cidade e, nesse período, ele saía de Osvaldo Cruz Cidade em que moravam, para acompanhá-la. Quando a família se mudou para São Paulo, ele participou da mesma forma, madrugando na Santa Casa toda vez que isso se fazia necessário.
Sua participação continuou da mesma forma na vida dos filhos da mesma e, quando um deles teve queimaduras e a outra contraiu leptospirose, foi ele quem os levou às pressas ao hospital, esta presença constante fez com que a neta e o avô criassem um forte laço de amor.
A família, para ele, era o seu bem mais precioso: sempre foi o primeiro a visitar qualquer familiar que estivesse doente e nunca ficou bravo, xingou ou brigou com nenhum filho, nem neto. Fazia de tudo para agradá-los. "Ao chegarmos em sua casa, Vô Lourenço logo sumia, quando íamos ver, tinha saído para comprar pães para nós", diz a neta Tayze.
Lourenço foi um verdadeiro exemplo para os seus familiares e amigos, ensinando-lhes valores preciosos como honestidade e integridade. De uma disponibilidade ímpar, estava sempre disposto a ouvir aqueles que amava e, com a sua sabedoria peculiar, tinha sempre uma palavra de conforto aos seus.
"Certo dia, eu cheguei na casa dele e disse que não estava me sentindo bem, que estava doente. Ele respondeu: 'Filha, você não está doente. Você está grávida e será um menino'. Chegando em casa, fui logo fazer o teste, que constatou a gravidez. Quando tive meu filho Brenno, liguei para ele perguntando se me visitaria. Então, ele me disse: 'Filha, vi o bebê assim que nasceu, o segurança me deixou subir'. Vovô foi o primeiro da família a conhecê-lo", recorda a neta.
Carismático e com uma doçura sem fim, conquistava as pessoas e espalhava amor por onde passava. Em seu aniversário de 84 anos, fez questão de reunir os três filhos, os genros e a nora, os 14 netos e os seus bisnetos para comemorarem essa data tão especial, assim, protagonizou um momento marcante, de muita felicidade e união!
Ele tinha lá suas manias. De jeito nenhum usava shorts. Adorava sopas, especialmente a de feijão. Muito católico, era devoto de Nossa Senhora de Fátima, com sua praticidade, quando morava no interior de São Paulo, ajudou a construir a maior igreja da cidade de Osvaldo Cruz.
Profissionalmente ele trabalhava como conferente em uma grande empresa de pneus, em suas horas livres, gostava de fazer palavras cruzadas. Como um bom descendente de italianos, jogava bocha. Aos domingos, era presença garantida na Sociedade "Amigos de Vila Santa Rita e Vila Arize", seu segundo lar, tendo inclusive recebido uma homenagem póstuma do local. Lá, ele praticou bocha e fez os amigos, que o chamavam carinhosamente de Tio Loro.
O esporte tinha um lugar especial em sua vida sendo um dos motivos de sua alegria e vitalidade. Na primeira bola batida no campo, era ele quem aparecia, geralmente de chinelos. Ele não era de fugir das responsabilidades nem em seu lazer. No time de bocha, foi tesoureiro por vinte anos onde com sua habitual honestidade, não deixava que faltasse nem um centavo no caixa.
Não se esqueceu do seu time nem no final da vida. No hospital, quando foi desentubado olhou para a neta, perguntou pela esposa, sorriu e pediu para que ela avisasse aos amigos do bocha que logo voltaria a jogar com eles.
Seu Lourenço deixou como exemplo não só suas certeiras tacadas de bocha, mas também sua forma honesta, marcante e amorosa de viver a vida.
Lourenço nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Lucélia (SP), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha e pela neta de Lourenço, Maria Aparecida Macarelli e Tayze Macarelli. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 19 de novembro de 2021.