1939 - 2020
Habilidosa, bordava amor nos enxovais que tecia e nos mimos que fazia à família e aos amigos.
Que pertence ao brilhante, de natureza iluminada. Esse é o significado do nome Lucília, originado do latim. E assim também poderia ser descrita a mineira Lucilia: "Ela se doava o tempo todo. Daquelas mães que ligam logo pela manhã para saber se dormimos bem", afirma a filha Maura.
Na infância, no interior de Minas, Lucilia ganhou o apelido de Nenê. Era a primogênita em uma família de oito irmãos. Mais tarde, ficou conhecida como dona Nenê. Cresceu na zona rural de Minas, no sítio Guapiru, que não tinha nem sequer luz elétrica naquele ano de 1959, quando bordou, à mão e "sob a luz de lamparinas", o enxoval completo do próprio casamento.
Sim, a mãezona dona Nenê pintava e bordava no melhor sentido da expressão. Ao lado do marido, Fabiano, fazia de um tudo: costurou para uma fábrica de camisas, recortou rebarbas de Havaianas, empacotou chá-mate. "No relacionamento, ela foi a alavanca para meu pai construir nossa família. Mamãe tinha tanta força! Nunca a ouvi dizer que não conseguiria executar alguma coisa. 'Vamos fazer? Tá feito'", costumava repetir.
O casal gerou cinco filhos: Maura, Marlene, Marli, Marcelo e Marcio. Com dificuldade, mas com amor de sobra, dona Nenê bordava os casaquinhos de gola de cambraia para os rebentos estarem sempre bem apresentados. A filha mais velha guarda vivo na memória o delicado talento da mãe: "Me lembro dela bordando à máquina comigo no colo".
Engraçada e dedicada ao seu clã, dona Nenê virava criança de novo na noite de Natal, uma das datas mais aguardadas pela matriarca. "Minha mãe amava ver aquela bagunça toda dentro da casa dela. Após a distribuição dos presentes, a sala ficava parecendo uma cooperativa de reciclagem", recorda Maura, sorrindo.
Dona Nenê também fazia um cupim assado como ninguém. Maura saliva só de pensar nos mimos da mãe. "Ah, que privilégio ter sido filha de Lucilia. Tenho certeza que meus quatro irmãos sentem o mesmo, assim como os parentes e os amigos, pois ela era uma pessoa atenciosa e devotada", garante Maura.
Outro legado transmitido aos familiares, por dona Nenê, foi o carinho pela jardinagem. "Ela deixou uma herança encrustada em todos nós: o cuidado com as plantas. Os cinco filhos, meu marido e minha cunhada fomos beneficiados pelo hobby dela", conta Maura.
"Toda as sextas-feiras, às 6h30 da manhã, tínhamos um encontro marcado: assistir ao Quadro Verde no telejornal 'Bom-dia, São Paulo'. Ela me ligava ou eu ligava para ela e discutíamos as matérias durante o programa. Saudades! Saudades! Saudades! Você faz muita falta, minha mãe! Até um dia!"
Lucilia nasceu em Campos Gerais (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Lucilia, Maura Pereira. Este tributo foi apurado por Ana Helena Alves Franco, editado por Luciana Assunção, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 16 de outubro de 2021.