1929 - 2020
Tinha olhos azuis, feito céu em dias de inverno, que emanavam toda a doçura e a pureza do seu coração.
Lucinda significa “cheia de luz”. Certamente, nenhum outro nome lhe caberia tão bem!
Casou-se aos 21 anos com Luiz, amor de sua vida. Eram tão apaixonados um pelo outro que durante os sessenta e oito que permaneceram juntos, até o falecimento dele, passavam a maior parte do tempo de mãos dadas. Da união, vieram os filhos Angelo, Vicente, Cássia e Fernanda.
Como avó, estava sempre a postos, com o sorriso mais gentil desse mundo, para preparar comidas deliciosas e mimar de todas as formas possíveis os netos Júnior, Enzo, Gabriel e André; irradiava alegria quando um novo bisneto chegava à família, sendo bisavó de Vitor, Miguel, Isabela e Júlia.
Devotada a tudo que fazia, tinha prazer em ser útil aos outros. Suas mãos e palavras sempre foram usadas para ajudar e afagar quem precisasse. Forte e determinada, sem jamais perder a doçura, esses eram seus traços mais marcantes. Nunca julgava nada, nem desdenhava da opinião ou gosto do outro, dizia apenas que as escolhas podem mudar nosso dia. Sabia se impor, mas também ouvia e nunca se considerava a dona da razão, refletindo sobre as diversas possibilidades para só depois tomar a melhor decisão.
Impossível não se recordar de ouvi-la cantarolando enquanto cozinhava, mostrando que tudo que se faz com amor, é um prazer. Ah, como ela amava cantar! Do mesmo jeito que em um dos trechos de Beijinho Doce, música que sempre cantava, diz que “Se me abraça apertado, suspiro dobrado, que amor sem fim”, quando sua família recebia dela aquele abraço demorado que aconchegava corações, seus beijos recheados de afeto ou, simplesmente, sentiam o seu perfume que transbordava calma, naquele instante, o tempo parecia parar.
Tinha olhos azuis, feito céu em dias de inverno, que emanavam doçura, sinceridade e pureza. Vaidosa, gostava de estar arrumada, perfumada, com as unhas bem-feitas e pintadas de vermelho, uma de suas marcas registradas. Com sua elegância ímpar, nunca falava palavrões, a única palavra mais atravessada que saía de sua boca era “ordinária”, mas somente para maldizer a vilã da novela.
Como um relicário delicado e precioso, a vida de Dona Lucinda colecionou memórias, feitas de sons e sabores incríveis, a quem, privilegiadamente, com ela conviveu. Ensinou que a graça e a beleza da vida estavam na simplicidade, ao encontrar a alegria em cada momento do dia. A vida ao lado dela foi certamente mais colorida e bonita! Transbordou luz e preencheu corações com amor. Um amor daqui até o céu, ida e volta, sete vezes.
Lucinda nasceu em Itu (SP) e faleceu em Itu (SP), aos 91 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Lucinda, Fernanda Martini. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Andressa Vieira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 29 de agosto de 2020.