Sobre o Inumeráveis

Luiz Alberto Maguito Vilela

1949 - 2021

Um democrata que sempre teve como missão ajudar as pessoas, todas elas.

Para a família, ele era o Luiz; no estado de Goiás era conhecido como Maguito e, nacionalmente era o Maguito Vilela. Porém, para a filha Maria Beatriz, que oferece esta homenagem, ele era apenas "pai".

Mas aqui, o advérbio "apenas", que pode até parecer exclusivo em relação às demais qualidades e feitos de Luiz, dá a verdadeira noção da relação entre pai e filha e resgata as lições sobre humildade, diplomacia, amor pelas pessoas e a valorização da importância do coletivo, sempre ensinadas por ele.

"Se você chegasse lá em casa, fosse ao entregar uma comida ou visitar alguém, ele logo ofereceria um café e te chamaria para entrar. Meu pai não era muito bom com o afeto demonstrado por palavras; mas quando ele se foi, descobrimos que guardava todas as cartas e cartões que eu e meus irmãos enviamos pra ele desde pequenos, tinha guardado os meus desde 1998 até 2018, esse era o jeito dele de falar 'eu te amo'. Ele era calado e observador, mas adorava contar piadas e rir das nossas piadas também", relembra Maria Beatriz.

Nascido em Jataí, lá era seu lugar no mundo. Amava estar no Recanto do Guerreiro, sua fazenda, onde costumava jogar canastra e adorava andar a cavalo com os filhos e netos.

Era curioso e sempre perguntava à filha quais eram as novidades tecnológicas, o que estava acontecendo na era digital, e pedia a ela para explicar a diferença entre cada uma das mídias sociais disponíveis.

Nos seus últimos dias no hospital, falou para um enfermeiro: “Deixar a vida passar e não deixar nada de bom é o mesmo que não viver!”

"Sua missão em vida foi ajudar pessoas, e ajudou milhares. Era justo, amava a política e a democracia brasileira ─ pelas quais lutou até o último dia de vida. Apaixonado por futebol, torcia para vários times, acho que não queria abandonar nenhum", afirma a filha.

"Meu pai ficou mais de oitenta dias internado, e eu tive o privilégio de poder visitá-lo em quase todos; nos seus últimos dias em que ainda estava consciente, ele me fez prometer que a gente iria voltar pra Goiânia e que iria comer um quibe cru do nosso restaurante árabe preferido. Nunca consegui cumprir essa promessa, mas espero que, onde quer que ele esteja, saiba que temos muito orgulho da vida linda que ele viveu", conta a filha.

Quando da partida do pai, Maria Beatriz escreveu uma última cartinha para ele, assim como aquelas que ela entregava desde criança e que ele sempre guardou com tanto carinho:

"Não achava que era a sua hora, mas, afinal, o que eu sei disso?

Logo eu que estou sempre atrasada! E você sempre tão pontual! Brigava comigo olhando no relógio como se estivesse à frente do seu tempo, e de fato estava. Ou, como se sempre fosse hora de pentear seu cabelo, com seu pente do bolso da frente.

Sabe pai? Espero poder te dizer isso um dia, mas já escrevo para que eu não esqueça. Hoje, ao entrar no supermercado, em busca de conforto em forma de chocolate, fui direto pegar uma caixa de chocolate da marca que você gostava, não tinha nenhuma! Achei irônico. Também não tinha mamão, muito menos creme de papaia...

Sabe pai? Foram tantas coisas não ditas... É difícil não ser muito verbal, acho que você me entende, mas deixo aqui um agradecimento por ter tido você na minha vida. Sempre resolvendo os problemas de todos e pensando nas pessoas, em todas elas, como uma missão.

Era isso, uma missão que você lutou até o fim por ela. Obrigada também por dividir esses últimos dias com a gente. Que orgulho de vida! Todos já sentimos sua falta. Saiba que sua passagem por aqui é eterna.

Espero que você chegue por aí com um grito de gol ecoando essa vida linda que você viveu."

Luiz nasceu em Jataí (GO) e faleceu em São Paulo (SP), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Luiz, Maria Beatriz Estevão de Oliveira Vilela. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 4 de abril de 2021.