1957 - 2020
Sensato e gentil, reagia com serenidade diante dos problemas.
Ele era o típico “deixa disso”: aquele que odiava brigas, desentendimentos e discórdia. Detestava injustiça e muitas vezes se metia em confusão por comprar a briga dos outros, mas sempre com muita tranquilidade, paciência e amor. "Esse era o Luiz Carlos", conta a sobrinha Raquel. "Um cara do bem!"
Luiz era acolhedor e o tipo de pessoa que não desfazia de ninguém. Relacionava-se bem com todos, de maneira gentil, respeitosa, e por isso era muito querido. Era também vaidoso e estava sempre preocupado com a aparência: roupas e calçados "da hora", além das correntes e pulseira de prata que ele amava. Devoto de São Jorge, carregava no peito uma medalhinha do santo.
O pai morreu quando ainda era criança e ele e seus cinco irmãos foram criados pela mãe, que foi pai também. Da mãe ele herdou a fibra e o caráter, tornando-se um homem honesto, integro e trabalhador. Diferentemente dela, que embora os amasse de todo o coração, não era muito afeita a demonstrações de afeto, Luiz Carlos era todo emoção e demonstrava isso nas suas ações.
Na infância, ele foi um menino arteiro, como deve ser toda criança; na adolescência e juventude, um boêmio, dando certo trabalho para a mãe durante essa fase, pois sempre gostou muito da noite, de bebidas e de roda de conversas até altas horas, embora sempre rodeado de amigos. Até pouco tempo antes da pandemia ele continuava frequentando os lugares que gostava, como os bares do entorno da cidade, mas de forma diferente: agora era um adulto, com responsabilidades, casado e pai de dois filhos.
Exercia a profissão de eletricista e entendia tudo desse ofício, que era o sustento da família. Morando numa cidade pequena, onde havia poucas ofertas de trabalho, Luiz buscava serviço em outras localidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Espírito Santo e outras tantas. Às vezes, ausentava-se por dois ou três meses e, quando não estava viajando, fazia bicos e reparos sempre que alguém solicitava.
Na volta das viagens ele se juntava à família para os almoços, churrascos, aniversários e sempre puxava a farra: apreciava uma cervejinha e gostava de jogar conversa fora, divertir as pessoas e se divertir. Essas reuniões em sua casa, com os filhos, a esposa, e os parentes e amigos mais chegados, "eram um momento único, de extrema felicidade para ele", lembra a Raquel.
A sobrinha se recorda de momentos marcantes entre os dois, como quando ele ganhou na justiça, um processo demorado, da aposentadoria, que lhe rendeu um bom dinheiro, num momento de necessidade; quando ele se curou da tuberculose e ela foi visitá-lo; dos conselhos que davam um ao outro; do apoio que deu à Raquel quando ela perdeu o irmão, de forma trágica, e também no nascimento das sobrinhas netas: ele viajou até o Espírito Santo só para conhecê-las. Os dois, sempre compartilhando momentos tristes e também os de grande alegria.
Muito amado, ele era a paz em pessoa. Luiz deixa esposa, filhos, irmãos e amigos. Deixa saudade.
Luiz nasceu em Barra do Cuiete (MG) e faleceu em Governador Valadares (MG), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela sobrinha de Luiz, Raquel Rosado Campos Carvalho. Este tributo foi apurado por Marina Gabriely e Lucas Cardoso, editado por Rosa Osana, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 10 de agosto de 2021.