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Luiz Valério de Aquino

1963 - 2020

Vivia assoviando suas músicas preferidas e até mesmo o canto dos pássaros.

Todo apelido tem sua origem e o dele, "Lilica", veio da infância, quando sua mãe o chamava carinhosamente de Lili. Depois, o avô também passou a chamá-lo assim e o apelido pegou, tornando-se tão usual que até a própria família precisava puxar pela memória quando perguntavam qual era o seu verdadeiro nome. Esse apelido o acompanhou durante toda a vida. Do pré-escolar da filha Mariana, que escreveu o nome do pai como Lilica de Valério de Aquino, até sua lápide onde as pessoas ficavam surpresas ao verem o nome nela registrado.

Luiz foi um filho muito querido e, como tal, foi o único que ganhou de presente uma bicicleta — que ele amava. Desde pequeno, tinha o hábito de fazer as refeições sentado à mesa e nunca comia sem pimenta, nunca mesmo. Ele gostava tanto, mas tanto de pimenta, que se ela faltasse em sua casa, ele saía para buscá-la na casa dos vizinhos. Quando adulto, as pessoas ficavam impressionadas com a quantidade dela que ele colocava em seu prato, e os amigos, quando queriam agradá-lo, lhe davam de presente os mais variados tipos.

Ele era casado com Leila e desta união nasceram Paula, Guilherme e Mariana. Bernardo foi o seu primeiro neto e uma verdadeira paixão. Em família, era uma pessoa calma e venerada por todos: esposa, filhos, neto, irmãs, sobrinhos e sobrinhas, cunhados e cunhadas, e também pelo pai, que já completara 94 anos!

Possuía inúmeras amizades, mas duas delas eram diferenciadas. Elton e Boca Preta, que com ele cultivaram uma vida inteira de convivência pura e desinteressada, e viviam como se fossem irmãos de sangue.

Pessoa do bem, ele levava a vida de forma leve e com um bom humor especial e incomparável. Enfrentava os problemas sempre com muita paciência, sem nunca alterar a voz. "Cumprimentava todos na rua... sempre chegava e dizia: 'E aí, meu camarada!?!'", conta a filha Paula.

Gostava de dar apelido aos cachorros de estimação e assoviava, imitando um ganido de choro, para todos os cãezinhos que ele via – tanto os de rua, quanto os domésticos.

Possuía hábitos e manias regulares. Todos os dias, ao sair de casa, ficava alguns minutos procurando por suas chaves. Isso continuou a acontecer até mesmo depois de comprar um porta-chaves, porque não as colocava no lugar correto.

Nas horas livres, gostava de reunir a família e os amigos para saborear um churrasco e tomar uma cerveja gelada. Por onde passava ele era a alegria em pessoa. Gostava de assistir aos jogos do Cruzeiro e aos canais de esporte e aventura. Além disso, visitava a casa dos filhos e amava brincar com o neto. Era muito católico, gostava de ir à missa e sempre se reunia para rezar o terço com o grupo da Igreja.

Com seu coração puro, bondoso e sem malícia, não media esforços para que os outros se sentissem bem, fosse uma pessoa querida ou até um completo desconhecido. Atento a tudo, ele demonstrava carinho em cada pequeno detalhe. Se alguém da família comentasse, por exemplo, que uma guloseima diferente trazida por ele para o café era gostosa, no dia seguinte era capaz de comprar quase todo o estoque disponível. E ai deles se não a devorassem! Era capaz até de reclamar se achasse que não estavam se fartando o suficiente...

Luiz tinha um assovio que era sua marca registrada. Estava sempre assoviando suas músicas preferidas: do canto dos pássaros às músicas do Skank, Guns N'Roses, U2, Raul Seixas, Engenheiros do Hawaii, Alceu Valença e Zeca Pagodinho. Entretanto, diz a filha Paula, “era o assovio da parte instrumental de 'Bitter Sweet Symphony', do The Verve, que trazia encantamento.

Humilde e de bem com a vida, batalhava para ver os filhos formados. Trabalhava muito exercendo as profissões de mototaxista e motorista de ambulância. Dedicado, educado, paciente e prestativo, as pessoas confiavam plenamente nele e chegavam a se sentir mais tranquilas e seguras quando era ele quem as conduzia. No seu ambiente de trabalho todos gostavam de sua energia positiva e das piadas que contava.

Generoso e preocupado, suas últimas palavras foram de alerta, para que as pessoas se cuidassem, porque "a Covid não era brincadeira".

Extremamente querido onde morava, quando faleceu teve as honrarias compatíveis com a admiração que causava. Foi acompanhado por um cortejo muito bonito pelas ruas da cidade, composto pelos seus colegas do hospital e do mototáxi, além de muitos amigos e conhecidos.

Também recebeu diversas homenagens que demonstraram o quanto de saudade deixou no coração daqueles que com ele tiveram o privilégio de conviver.

Luiz sempre será lembrado por sua humildade, força de vontade e alegria.

Luiz nasceu em Itaú de Minas (MG) e faleceu em Araguari (MG), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Luiz, Paula de Souza Aquino. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 31 de agosto de 2021.