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Luiza Schmitz Nürnberg

1945 - 2021

Uma senhora romântica que transbordava seu amor maternal em beijos e bolachinhas.

Logo que Luiza nasceu, seu pai, que à época contava 75 anos, partiu. Assim, ela foi criada apenas pela mãe. As duas eram como "unha e carne" e isso costumava ser até motivo de ciúmes entre os irmãos. As filhas de Luiza contam que, mesmo depois de adulta, ela e a mãe combinavam em tudo.

Nascida na roça, seus dias de infância eram de trabalho pesado — e com alguns sustos. Luiza sempre lembrava da vez em que caiu nas águas de um rio enquanto atravessava uma ponte de tábua. Por sorte, ela foi socorrida!

Quando não estava ajudando a família nas plantações, estava em casa, costurando. Com apenas 8 anos Luiza ganhou uma máquina de costura e, nela, aprendeu tudo, sempre observando os movimentos que a mãe fazia com os pés e com as mãos, dando forma aos pedaços de pano. Costurou até o fim da vida.

Já adolescente, Luiza amava ir às matinês. Foi numa delas que conheceu um moço tocador de gaita, que, mais pra frente, viria a se tornar seu esposo. A primeira gravidez do casal foi tumultuada. À época, morando na região rural, Luiza pisou numa cobra, foi picada e perdeu o bebê. Depois, já recuperada, engravidou novamente e, ao todo, teve cinco filhos.

Esteve casada durante vinte e quatro anos, mas, infelizmente, muitos desses anos não foram felizes. Por isso, ela vivia dizendo que se separaria do marido assim que as duas filhas se casassem. E foi exatamente o que fez. Um dia depois que a segunda filha se casou, ela pediu o divórcio.

Luiza nunca deixou de acreditar no amor e nas histórias contadas nos romances. Direcionou todo o amor que havia em seu coração para a família e as amigas – que eram várias.

Embora já estivesse divorciada e com os filhos encaminhados na vida, não demorou muito para que sua casa começasse a se encher novamente. As netas vieram para que ela pudesse mimá-las bastante, sempre fazendo orelhas de gato e bolachinhas de Natal de araruta. Além dos mimos, às vezes, as netas também levavam umas broncas: elas lembram que quando elas "aprontavam", a avó Luiza saía correndo atrás delas com uma varinha na mão; no entanto, tudo não passava de encenação, o coração de Luiza era só amor pelas meninas.

Luiza também teve bisnetos para transbordar sobre eles ainda mais afeto.

Algo que Luiza ensinou às três gerações que vieram depois dela foi: "De nada adianta viver o Evangelho fora de casa, se você não o vive dentro de casa". Todos os dias Luiza rezava o terço e se empenhava em expressar amor.

"Não existia pessoa mais carinhosa do que ela. Sempre beijava, dava muitos abraços apertados e dizia 'a vó te ama'. Dona Luiza era puro amor", contam as netas.

Luiza nasceu em Ituporanga (SC) e faleceu em Joinville (SC), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Luiza, Bruna Hames Nürnberg Gerhardt. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Michele Bravos, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 13 de julho de 2022.