1979 - 2021
Realizado como pai, trocava as fraldas do bebê já sonhando com o dia de levá-lo para jogar bola.
Macário era natural da Paraíba, mas vivia em Brasília desde os seus 18 anos. Numa de suas viagens anuais de férias à sua terra natal, no ano de 2008, aproximou-se da prima Patrícia e os dois começaram a namorar. Neste período, Patrícia ficou grávida e ambos ficaram muito felizes, mas perderam o seu aguardado bebê.
A vida seguiu em frente e, quatro anos mais tarde, oficializaram sua União Estável e construíram sua casa. Macário era um homem apaixonado, que fazia questão de demonstrar a todo momento o amor que tinha pela esposa. Com a vida organizada, o casal alimentava o sonho de engravidar, porém tiveram muita dificuldade em realizá-lo.
No ano de 2016 passaram por desentendimentos conjugais, mas, um ano depois, entenderam-se novamente, retomaram o casamento e, então, Macário levou Patrícia para Brasília, onde viveram por mais três anos.
Retornaram para a Paraíba em 2019, por medo dos índices da pandemia e, quando lá chegaram, descobriram que Patrícia estava grávida: notícia que foi motivo da maior felicidade! Decidiram não voltar mais para Brasília, porque queriam criar o filho, Matheus, em sua terra natal.
"Esse filho representava a felicidade, o significado que faltava na vida dele", relata a prima, Aline. "A alegria em ser pai estava estampada no rosto dele, era maravilhoso ver o amor de Macário pelo filho. Quando o pegou no colo, ele disse a Deus: 'Se o Senhor quiser me levar hoje, eu sou o homem mais feliz deste mundo! Obrigada por me permitir ser pai'".
Dedicado e amoroso, acompanhou cada momento da evolução do filho. Foi muito participativo durante os três meses em que pôde partilhar de sua vida; trocava fraldas e dava banhos no bebê, sonhando com o dia em que ele já estivesse grande o suficiente para levá-lo para jogar bola com o priminho Arthur.
Macário era um homem de muitas profissões, um exemplo de profissional e de ser humano. Curioso e inteligente, conseguia realizar mais de uma atividade com responsabilidade. Em Brasília, era registrado como motorista particular; porém, também gerenciava a mansão onde trabalhava. Na Paraíba, foi contratado como eletricista porque tinha o curso técnico nesta profissão, mas se virava também como pedreiro e encanador. Também ofertava sua competência à família: “Veio várias vezes à minha casa para realizar reparos, serviços de eletricidade e encanamentos”, conta Aline.
Aline é pródiga em destacar as qualidades de Macário: “Meu primo era o que podemos chamar de um amigo sincero. Tinha um coração de criança, não guardava mágoas. Fazia amizade com todos aonde chegava. Era impossível conhecê-lo e não se lembrar dele. Alegre, brincalhão, sorridente, divertido e, ao mesmo tempo, sério, responsável, comprometido, inteligente e muito criativo. Foi uma honra, uma alegria e um privilégio ter convivido com um ser humano como Macário”.
Ela conta que às vezes ele era apressado, agia muito rápido e cobrava dos familiares também essa agilidade, mas isso não impedia que convivesse bem com todos. Era um filho presente, prestativo, maravilhoso, que não passava um dia sem falar com os pais, mesmo que fosse por telefone. Como irmão era sem igual, com o qual se podia contar em todas as horas. Era também um primo, um sobrinho, um amigo para todas as horas.
Para ele, todas as oportunidades de estar com a família eram atrativas, não importando se para lazer ou trabalho, ele estava sempre pronto para participar. Amava promover reuniões familiares e nelas se divertia como uma criança. Nas suas horas de folga e de descanso, gostava de visitar parentes, numa demonstração do quanto estes momentos eram gratificantes e valorizados por ele.
Dono de uma prestatividade sem igual para com todos que necessitassem, transportava familiares ou emprestava o carro para consultas médicas na capital paraibana. Aline relembra com gratidão: “Quando meu filho nasceu, em 2015, eu precisei ir à João Pessoa para levá-lo à pediatra para fazer os exames de rotina. Meu marido estava viajando e Macário foi comigo nessa viagem, foi ele quem segurou meu filho no colo para realizar o teste do pezinho".
Macário deixou lembranças inesquecíveis do tempo de criança, quando os primos se reuniam no sítio onde os familiares moravam. Jogavam baralho, tomavam banho no açude ou então brincavam de baleada (queimada). Estarem juntos era sempre uma verdadeira festa!
Macário sabia desfrutar os prazeres da vida. Em relação à comida, tinha um bom apetite e gostava de tudo, mas não resistia mesmo era a um churrasco, aos caldos de mocotó e ao queijo de manteiga feito na Paraíba. No futebol ele não era de fazer muito alarde, mas vibrava quando o Vasco estava ganhado. Não admitia abertamente, mas era um vascaíno meio disfarçado, para não contrariar a esposa Patrícia, que é flamenguista roxa.
Ele cultivava o hábito de perturbar os amigos com brincadeiras saudáveis e, quando se aproximava, todos sabiam que estava chegando pelo som do carro e o estilo de música: sertaneja e Amado Batista. Mas a que verdadeiramente o emocionava era “No dia em que saí de casa”, de Zezé Di Camargo e Luciano, porque, segundo ele, ela lhe fazia recordar das muitas vezes que precisou se ausentar da família em busca da sobrevivência em outro estado.
Macário, com sua singeleza, enfrentava com fé e coragem as dificuldades da vida, repetindo sempre: “O sistema é bruto”. Hoje, para os familiares, a frase faz muito sentido, quando têm que se conformar com sua partida; com saudade, dor e até mesmo uma certa revolta.
Macário nasceu em Itabaiana (PB) e faleceu em Campina Grande (PB), aos 41 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela prima de Macário, Aline Ferreira Moreira. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 26 de outubro de 2021.