Sobre o Inumeráveis

Maicon da Silva Felgueiras

1990 - 2021

No seu negócio, Maicon criava deliciosas receitas. Fora dele, juntava os amigos para cantar e tocar violão.

Maicon gostava de reunir a família, os amigos, tocar violão e cozinhar para todo mundo. Sempre foi muito carinhoso e amoroso, e sua risada era genuína. Quem estivesse junto e ouvisse, com certeza começava a rir também.

Filho único, perdeu seu pai muito jovem, e cresceu com a mãe em Garibaldi. Maicon chegou a cursar parte das faculdades de Direito e Administração, mas se encontrou mesmo na Gastronomia, juntando a paixão por churrasco e chimarrão à sua escolha profissional.

Era uma pessoa muito alegre e comunicativa. Em fevereiro de 2011, em uma festa de faculdade em Campinas, ele e Ana Catherine, sua esposa, se conheceram e não se desgrudaram mais. "Mas ele só foi me pedir em namoro em junho, me enrolou um pouquinho", relembra ela. Quando assumiu o namoro, no entanto, quis levar Ana para conhecer a família inteira no Rio Grande do Sul.

Cursando Gastronomia em Indaiatuba, enquanto ela morava em Ribeirão Preto, namoraram à distância por alguns anos, mas compensavam viajando sempre, para vários lugares do Brasil. Em 2018, casaram e encurtaram a distância de uma vez. Ana lembra que foi um dos dias mais felizes da sua vida. "Tinha uma dupla cantando na festa do meu casamento. Em um determinado momento, o Maicon puxou o microfone e cantou 'Eu Juro', do Leonardo. Ele cantava lindamente".

A música fazia parte de sua vida, aproveitava qualquer oportunidade para reunir amigos, pegar o violão e começar a cantar. Maicon era fã da banda Charlie Brown Jr. desde a adolescência, e nem tinha uma música favorita, porque gostava de todas. Também tocava e cantava todas do Bruno e Marrone.

Na lua de mel, em 2018, o casal fez sua viagem mais marcante, para a Grécia. "Sou descendente de gregos e queria muito conhecer o país", explica Ana. Eles acharam tudo maravilhoso, mas Maicon se encantou mesmo pela culinária grega, sobretudo pela variedade. A surpresa inesquecível veio na volta da viagem: estavam "grávidos"; mas só descobriram essa novidade um tempinho depois.

Ao retornar aos afazeres cotidianos, Ana percebeu que estava sempre com muito sono, ela desconfiou da gravidez e resolveu fazer um teste de farmácia para comprovar. "Enquanto eu tentava ler o teste, e chorava muito ao ver o positivo, Maicon não parava de rir. Lembro como se fosse hoje", conta.

Ele queria muito ter filhos, experimentar todas as vivências que a paternidade envolve. Queria ensinar o filho a cozinhar, a tocar violão, a cantar e levar para viajar. Ana diz que pensava em ter filhos mais tarde, mas agora vê o sentido da "surpresa". Quando Maicon morreu, seu menino, Bernardo, tinha 1 ano e 11 meses.

Morando em Ribeirão Preto, a família montou uma cantina escolar. Maicon era mais administrador do que cozinheiro, fato que jamais o impediu de fazer suas "invencionices" na cozinha. Deixou alguns legados culinários para os alunos: um cookie de leite ninho e creme de avelã e o dia da culinária japonesa. Era conhecido e querido por todos os clientes pela gentileza e criatividade.

"Tenho saudades dele todos os dias, e nesses momentos, parece que ele volta e fica”, lembra a esposa, também rememorando momentos vividos com Maicon quando ouve uma música do Charlie Brown Jr. ou de Bruno e Marrone, ou quando assiste a Toy Story com seu filho. Ainda na gravidez, em uma viagem à Disney, eles compraram o Woody, o cowboy do desenho, e Maicon, sempre brincalhão, disse a Bernardo que não lhe emprestaria seu brinquedo. A personalidade alegre fazia de Maicon um homem com jeito de menino; ele era realmente encantador.

Maicon nasceu em Garibaldi (RS) e faleceu em Ribeirão Preto (SP), aos 30 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Maicon, Ana Catherine Economides Gallina. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Luciane Crippa Kobayashi, revisado por Elias Lascoski e moderado por Rayane Urani em 16 de outubro de 2021.