1951 - 2021
Gostava de plantar feijão, melancia e abóbora no quintal. Admirar suas plantações era um dos seus maiores prazeres.
“Falar sobre meu pai é, sobretudo, falar sobre força e resiliência. Meu pai nunca se deu por vencido diante das dificuldades da vida”, assim começa sua filha Júlia.
Muitas lembranças ele deixou na memória da pequena Júlia. Sempre muito ativo, não desperdiçava o pouco espaço que sobrava na garupa de sua bicicleta, onde levava sempre uma caixa com coisas que ele vendia. O prazer de pegá-la na escola compensava qualquer dificuldade no vai e vem de sua rotina.
“Lembro de ficar sentada na calçada e nos reunir com outras crianças ao redor do meu pai. A gente cantava: ‘Seu Manoel perguntou, você não acertou, pegue seu banquinho e saia de mansinho', conta Júlia recordando de momentos especiais em sua vida.
Foi muito difícil quando Manoel teve que amputar o pé. Entre altas e internações, o tempo foi longo, mas ficou claro que ele tinha força suficiente para nascer de novo.
Manoel era um visionário. Decidiu, depois de morar alguns anos no interior do Maranhão, morar em Teresina. Seu sonho era ter uma boa casa para a família e um comércio de onde tirar seu sustento. Sempre pensou no melhor para seus queridos.
A cadeira de rodas de Manoel nunca o impediu de trabalhar. Ele ia sozinho para o Ceasa e cruzava uma avenida de muito trânsito e de duas faixas. Coragem nunca lhe faltou.
“Meu pai não se curvava! Seguia firme! As limitações não o derrubavam”, conta Júlia orgulhosa de seu pai.
Manoel foi pai presente e ensinou algumas tarefas aos filhos, um pai rigoroso. “Não passava a mão na nossa cabeça”, conta a filha. Criar filhos fortes para enfrentar a vida sempre foi seu desejo.
Todos que conheciam Manoel se surpreendiam e se admiravam da força que ele tinha para viver. Algo que transcendia todas as expectativas para alguém com uma deficiência física.
Ultimamente, Manoel, ainda se sentia forte e já sonhava com seu aniversário de 70 anos. Já havia comunicado à esposa, aos filhos e a todos os sobrinhos. Queria a casa cheia para a grande celebração de sua vida cheia de vitórias. Amava reunir as pessoas.
Manoel também era uma pessoa extremamente acolhedora. Recebia todos em casa com muita alegria. Os assuntos giravam em torno do futebol, da política e acontecimentos do mundo. Ele gostava de estar atualizado para poder conversar com todo mundo.
A calçada sempre foi um lugar onde Manoel gostava de estar. O movimento da rua o atraía e mesmo dentro de casa, deixava uma frecha da porta aberta só para espiar o que acontecia lá fora.
O aconchego da casa, com suas almofadas e tapetes que ele gostava muito, faziam dele um homem realizado, feliz de poder gozar tudo o que havia conquistado junto à família.
A vida do interior continuava forte dentro dele e olhar suas plantações, por horas a fio, era a sua maior alegria e satisfação.
Manoel também gostava das coisas da cidade grande. “Gostava de ir ao shopping, tomar um café com leite no Rei do Mate e ficar parado observando o movimento, o ir e vir das pessoas”, conta Julia que vez ou outra encontrava seu pai por lá. Uma alegria vê-lo de repente tomando seu mate.
“Pai, o senhor foi um guerreiro durante toda a vida”, se despede orgulhosa e saudosa a filha Júlia.
“COMBATI O BOM COMBATE. TERMINEI A CORRIDA. GUARDEI A FÉ.”
Manoel nasceu Francisco Santos (PI) e faleceu Teresina (PI), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Manoel, Manoel de Jesus Santos. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Míriam Ramalho, revisado por Emerson Luiz Xavier e moderado por Rayane Urani em 11 de junho de 2021.