1940 - 2020
Sempre de chapéu Panamá e sorriso largo, era um compositor que produzia música e amor como ninguém.
Manoel fez da vida uma canção. E por 53 anos teve ao lado Francisca, sua parceira nas principais melodias e ritmos do dia a dia.
Compuseram juntos oito músicas perpetuadas pelo mundo, seus filhos João Guilherme, Ana Célia, Maria Leonor, Ana Cristina, Marcelo, Manuela, Daniela e Cecília. Suzete é um canto especial nesse enredo – a clave de sol, a filha do coração.
O corpo inteiro de Manoel sempre produziu música! Com olhar de agricultor, viu a dureza do trabalho ao sol, mas também trazia a sensibilidade do bom e do belo, sobretudo à margem do beiradão.
Voz de comando da família Marinho, ele sempre alertava para o caminho certo e anunciava desafios do dia. Falava da saudade da infância, propunha um passeio e proporcionava gargalhadas aos netos e bisnetos. E ai de quem errasse o caminho, a letra ou o tom dessa caminhada. "Você desafinou!", dizia ele.
Manoel gostava da TV "no toco" – com o som bem alto. No fim de semana, colocava sua caixa de som e microfone nas alturas com suas músicas preferidas. O espaço era dedicado a cantar e cantar e cantar...
As mãos ásperas – ora pela labuta, ora pelos calos do violão – eram dedicadas também a enrolar bananadas e cocadas, a fim de fornecer sustento e doce a nossas vidas. Manoel sabia escrever seu nome e fazer contas, mas gostava mesmo era do gravador.
No final da caminhada, teve sua mente abalada pelo Alzheimer, mas a arte permaneceu intocada. Para a família, fica o lembrete de não esquecer: chapéu Panamá, bermuda e blusa combinando, percata e meia na canela, perfume e um sorriso bem largo.
Apesar da partida breve, Manoel deixa à família a certeza de que descansa em paz e possui vida eterna com Deus e Nossa Senhora. “Manoel Marinho, teu fôlego está em nós, honraremos tua vida em nós. Teu canto não tem fim. Você é a música e o amor de nossas vidas”, diz a neta Larissa.
A história da família continua na partitura da música de Manoel, pautada nos ensinamentos concedidos como tesouro, como benção, e com um recado final para ele: “Te amamos na imensidão do beiradão”.
Manoel nasceu em Terra Santa (PA) e faleceu em Manaus (AM), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Manoel. Este tributo foi apurado por Viviane França, editado por Maria Luiza Gonçalves, revisado por Joselma Coelho e moderado por Rayane Urani em 13 de junho de 2020.