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Marcelo Cezane

1975 - 2020

Carismático e divertido, foi um professor apaixonado pela sala de aula. Com certeza, segue fazendo suas artes.

Professor de Matemática nas redes públicas de ensino do Espírito Santo e muito carismático, Marcelo se dava bem com todos. Era daqueles apaixonados pela sala de aula e pela convivência com os alunos.

Animado, divertido, espirituoso, "tão arteiro que nem parecida ter 45 anos!", conta sua esposa, Vanderléia. Muito brincalhão e sorridente, ele era a alma das festas das quais participava. Fazia de tudo para que todo mundo se sentisse bem, ao mesmo tempo em que também era teimoso. Não gostava de ser mandado e era bem implicante com a mãe, de uma maneira às vezes até engraçada, relata.

Marcelo era filho único do falecido Geraldo e de Dona Valdete, sua grande paixão. Teve um único filho, de nome Gabriel. Gostava de praticar jiu-jítsu e seu gosto musical se resumia a sertanejo universitário.

Eclético, curtia muito ficar em casa vendo filmes, mas o que amava mesmo era estar no meio de muita gente. Muito vaidoso, sempre usava seus perfumes importados para sair e seus chamativos relógios de pulso, que não passavam despercebidos aos olhos alheios.

Cozinhar, para ele, só se tivesse vontade e nunca por obrigação! Sua especialidade era a moqueca de peixe que ele tanto gostava. Amava animais e possuía um cachorro rottweiler que se chamava Kid e era sua paixão. Sobre isso, sua amiga, Luísa, conta uma história engraçada e inesquecível.

Certa vez, Kid foi levado para casa da mãe e do padrasto para vigiar o terreno, só que isto não foi avisado aos demais familiares... e eis que estes vão visitá-los. Dentre eles estava Luísa - que chamava a mãe de Marcelo de “vódrasta” desde que ela se casou com seu avô Siliegio - e que morre de medo de cães, principalmente os de grande porte, e ela não quis nem descer do carro. Aí virou aquele impasse. Imagine a cena: Marcelo de um lado dizendo que o cão “era de boa” e que ela podia até fazer carinho nele e ela, do outro, cheia de medo, retrucando, “Vou fazer carinho nada!” e provocando muitos risos nos presentes.

A vida, no entanto, não é feita só de coisas alegres e Marcelo, apesar de amar a sala de aula, sofria, pois o magistério exigia muito de sua mente. A certa altura ele sucumbiu à sobrecarga e ao estresse e precisou ficar internado, durante um ano, em uma clínica psiquiátrica distante mais de 100 quilômetros de sua casa. Nesse período, Vanderléia, a esposa, só podia vê-lo uma vez por mês e isto lhes causava muita tristeza.

Ela acabou se mudando para Itaoca a fim de ficar mais próxima de Marataízes, cidade onde ele estava internado. Quando Marcelo saiu da clínica, enfrentou a readaptação e encontrou certa tranquilidade, ainda que tenha passado dois anos sem conseguir sua sonhada vaga de professor.

O emprego enfim apareceu, mas já perto da partida deste apaixonado professor. Marcelo se foi três dias antes de seu aniversário. Deixa, além de histórias e alegrias, muita saudade.

Marcelo nasceu em Itapemirim (ES) e faleceu em São Mateus (ES), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado de Marcelo, Vanderléia de Souza Cosine e Luisa Soresini Ramalho Dilascio. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Vera Dias, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Phydia de Athayde em 2 de fevereiro de 2021.