1964 - 2020
Com sua paixão pelo trabalho, apoiou artistas de sucesso em suas carreiras. Muitos tornaram-se verdadeiros amigos.
Com seu espírito livre, Marcia foi uma mulher que soube correr atrás de seus sonhos, independente do que as pessoas pensariam ou deixariam de pensar. "Sabe a Dercy Gonçalves? Então, ela era igualzinha!", começou dizendo o sobrinho para descrevê-la. A verdade é que Marcia foi uma força da natureza. Incontrolável e inconfundível. Ela xingava quando estava irritada sem se preocupar com convenções e regras desnecessárias. Chamava todo mundo de "mano" e "mana", mas não como a gíria de São Paulo, e sim como a expressão que carinhosamente significa "irmandade" em Belém.
Muito querida e muito afetuosa, costumava conquistar as pessoas com apenas um sorriso. Gostava de ter a casa cheia de gente, ficar sozinha não era com ela. Era desapegada de coisas materiais e tinha muita fé, independente das situações. Quando chamava as pessoas para dormir em sua casa, insistia em ceder seu quarto e sua cama aos convidados e sempre dormia no sofá.
Também gostava muito de jogar bingo. Sua mãe e uma de suas irmãs também gostavam do passatempo e, juntas, eram as jogadoras de bingo da família, não perdiam uma oportunidade. Marcinha, como era carinhosamente chamada por suas amigas, também gostava de viajar, principalmente para o nordeste. Qualquer motivo era bom o suficiente para viajar para visitar um de seus seis irmãos. Um dos prazeres que não abria mão era comer. Marcia era facilmente conquistada pelo estômago e isso fez com que pegasse gosto por cozinhar. Se tornou uma excelente cozinheira. Sua feijoada era famosa no meio da família e amigos.
Seu maior sonho sempre foi trabalhar com o meio artístico e ela realizou esse sonho com maestria. Ao longo de uma carreira de mais de 30 anos, foi responsável por nomes de desataque na mídia. Tudo começou quando seu então namorado, pai de seus filhos, passou a jogar futebol profissionalmente. Ela começou a acompanhar a vida futebolística e ter contato com nomes importantes do meio. Quando voltaram para Macapá, ela foi convidada para trabalhar em um evento, ajudando na preparação de um show do grupo musical É o Tchan. Foi aí que conheceu Carla Perez, com quem teve uma troca bonita e instantânea. Trabalhou com Carla durante dez anos, ajudando como podia em sua carreira e adquirindo todo o conhecimento e experiência que precisava para ter autonomia no que gostava de fazer. Passou a ser produtora e depois empresária de Carla. No fim, tornou-se assessora de diversos artistas, como Wesley Safadão e Alexandre Pires, por exemplo.
Marcia tinha um toque especial que era só dela. Assim como aconteceu com Carla, Marcia não só trabalhou com diversos artistas, como se tornou amiga deles. Seus contatos viravam grandes amizades, afinal, ela era uma pessoa a qual era impossível não querer bem. Quando foi internada e necessitou de doação de sangue, uma campanha foi mobilizada em seu nome por diversos famosos, pedindo que doassem sangue, não só para ela, mas também para quem estivesse na mesma situação da assessora. Ela ajudou muita gente, mesmo internada.
Seu último projeto foi o cantor Guto Soares, a quem ela nutria profundo carinho. Guto foi, por muito tempo, seu assunto favorito. Onde quer que fosse, ela queria conversar sobre ele, levá-lo junto ou tocar suas músicas, pois acreditava verdadeiramente em seu potencial artístico e que ele merecia colher os frutos das coisas boas da vida. Após sua partida, seu sobrinho Luiz Fernando, que morou com a tia desde muito jovem e abraçou as influências da personalidade de Marcia em sua própria vida, passou a trabalhar no desenvolvimento da carreira do cantor. Para aliviar a saudade que sente da tia Marcia, ele entra em seu Instagram para olhar seus vídeos e fotos. Os prêmios conquistados por ela ficam em sua estante, para sempre lembrar e admirar a mulher forte, independente e de sucesso que ela foi.
Marcia criou seu sobrinho como se fosse um filho. Os dois eram muito parceiros e estavam o tempo todo fazendo companhia um para o outro. Luiz, assim como os filhos de Marcia, não ficaram sabendo de um momento conturbado de sua vida, no qual ela lutou e venceu a batalha contra um câncer. Marcia, sempre pensando no bem estar de seus queridos, os poupou de toda a preocupação que a situação exigiria deles.
Suas amigas a chamavam de Marcinha por que ela era baixinha, de feições pequenas. Mas o que Marcia perdia de altura, compensava em caráter, simpatia e alegria. Viveu feliz, da melhor maneira possível: trabalhando com o que amava e sendo amada por todos. Afinal, era impossível resistir aos encantos da personalidade de Marcia Maciel.
Marcia nasceu em Belém (PA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho e pela amiga e ex-funcionária de Marcia, Luiz Fernando e Priscila Cassia Leite de Campos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Letícia Virgínia da Silva, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 12 de janeiro de 2022.