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Marcos André Silva

1969 - 2020

Ele chamou a vida pra dançar. A ela deu ritmo, calor e luz.

Personal dancer, professor de educação física, árbitro de basquete, músico. Marcos André Silva tinha uma longa fila de talentos. Encantou a companheira Lúcia com sua dança em uma gafieira, 9 anos antes. Gafieira não era seu forte, mas a pedagoga o fez saber que se a orquestra tocasse um forró, dançaria com ele. Daí para o casamento foi um passo.

Na primeira faculdade Marcos recebeu dos amigos o apelido “Lolo”. E, depois de formado em educação física, continuou estudando: foi bacharel em turismo, matemática e biologia.

No começo nada foi fácil: vendia mungunzá nos bairros onde morava para pagar seus estudos. Um vizinho impertinente, ao ouvir os gritos do vendedor pelas ruas, chegou a jogar água no menino algumas vezes, mas não só se arrependeu, ao conhecer por amigos a história do rapaz, como foi pessoalmente entregar a ele seu diploma, pedindo perdão. Já professor, alguns anos depois, Marcos devolveu o gesto ao mundo reconciliando pai e filho, brigados: convenceu o pai a aparecer de surpresa para entregar uma medalha ao garoto em uma competição esportiva.

Junto ao irmão, mantiveram a casa da mãe desde sempre. Não há foto dele sem um sorriso no rosto. Tocou violão, percussão, fez músicas. No condomínio onde morava, distribuía seu velho companheiro, o mungunzá, aos vizinhos e resolvia dúvidas de matemática para a garotada. Dançou com senhoras em vários clubes da boa idade em toda a grande Recife. Acumulou, na vida, um número gigante de admiradores.

Marcos nasceu em Paulista (PE) e faleceu em Olinda (PE), aos 51 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Marcos, Lúcia Maria de Lima. Este texto foi apurado e escrito por Rogério Zé, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 13 de julho de 2020.