1949 - 2021
Um sertanejo que venceu em Brasília, graças à força de seu trabalho, ao som das músicas que amava.
Marcos Antônio e Maria de Fátima ficaram juntos por 52 anos, ela eternamente apaixonada por ele. Foi pai de Alessandra, Antônio Marcos, Ana Cláudia e Andréa Lúcia, falecida, e avô de oito netos. Tinha enorme orgulho de ser avô de tantos jovens lindos. Dentre eles, Mariana, a única neta, era o seu xodó: "Maria, cuida da Mariana, bichinha".
Nasceu em Campina Grande e mudou-se para Brasília ainda muito jovem para fugir da miséria em que vivia com a família, que àquela altura já não contava mais com o pai, José Inocêncio, falecido, e era composta apenas por sua mãe, irmãos e irmãs.
Migrou com mais um irmão e, ambos passaram por todas as dificuldades que um jovem que sai da sua terra costuma enfrentar em busca de melhores condições para viver, como fome, frio, humilhações, até chegar aos dias de glória, confirmando o dito popular que diz que não há mal que dure para sempre.
Marcos abraçou a profissão de açougueiro por mais de trinta e cinco anos. Nela conquistou, com sua visão de empreendedor, muitos clientes e amigos, e nunca mais passou fome. Arrojado, foi um homem destemido, que mesmo sem educação formal falava inglês, um admirador de revistas em quadrinhos que aprendeu a ler por sua própria vontade.
Era esperto e sábio. Ciumento, crítico e feroz, "cabra da peste" honrado que se orgulhava, à sua maneira, dos filhos, que nunca deixou passar por necessidade. A seu respeito, conta a filha Alessandra com admiração: “Não somos ricos e nunca fomos, mas fomos criados para ser quem somos hoje. Meu pai era um homem galanteador e minha mãe que o diga. Um homem de coração enorme! Ser filha do meu pai é uma honra. Gratidão a Deus por esse privilégio”.
Amava as reuniões em família e, assessorado por Alessandra como excelente anfitriã, organizava festas como ninguém. Seu maior prazer era estar com os irmãos, tomando umas cervejas e comendo bem, numa relação fraterna peculiar em que o jeito de ser de cada um era respeitado.
Para Alessandra, falar sobre o pai é recordar uma vida inteira de muitas histórias, alegrias e tristezas também: “Meu pai foi um admirador da música. Podiam perguntar qualquer coisa sobre cantores e músicos das bandas, que ele sabia contar toda a história de vida deles. Curtia todos os estilos musicais, mas quando se tratava do Renato e seus Blue Caps, seus olhos chegavam a brilhar”.
A paixão pela música passou para a geração seguinte e seu filho Antônio Marcos, ou Nino Mix, é um DJ muito conhecido em Brasília. Ele costuma dizer: "O talento de ser DJ foi meu pai quem me ensinou”.
A ausência de Marcos, inclusive para a mãe Zefinha, de 98 anos, evoca a música "Naquela Mesa", de Sérgio Bittencourt:´
“Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava a gente e contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho que mais que seu filho eu fiquei seu fã.
Eu não sabia que doía tanto, uma mesa num canto, uma sala e um jardim,
Se eu soubesse o quanto dói a vida, essa dor tão doída não doía assim.
Agora resta uma mesa na sala e hoje ninguém mais fala no seu bandolim
Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim"...
Marcos nasceu em Campina Grande (PB) e faleceu em Brasília (DF), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Marcos, Alessandra Inocêncio. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Luciana Assunção e Vera Dias, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 28 de janeiro de 2022.